Por Katia Siqueira
Fundado em novembro de 1989 pelo Grupo Verdi e a Shell, com o objetivo de dar apoio de infra-estrutura aos motoristas de caminhão e às empresas de transporte, o Condomínio Rodoshopping Fernão Dias se tornou um importante ponto de encontro dos profissionais do volante que buscam carga para todo o Brasil.
O Rodoshopping – hoje sob a administração do Grupo Rodobens – tem 12 mil metros quadrados sendo formado pelo Shopping e pelo Terminal de Cargas Fernão Dias onde operam cerca de 32 escritórios e galpões de transportadoras de carga. Para ser considerado completo, porém, o terminal precisa ter uma alça de acesso de 500 metros que ligaria o complexo até a rodovia uma das rodovias próximas “Não precisa ser a Fernão, pode ser a Dutra ou mesmo a Marginal do Tietê, porque aí evitaria que a gente trafegasse por dentro dos bairros”, sugere o autônomo Davi de Souza.
“Enquanto eles não resolvem essa parte nós somos obrigados a rodar cerca de cinco quilômetros por ruas estreitas, movimentadas e cheias de crianças nos bairros de Vila Maria e Parque Novo Mundo para chegar até aqui”, reclama o motorista autônomo João Sérgio dos Santos, de Campo Grande/MS.
Para a felicidade dos motoristas, administração do Rodoshopping e dos transportadores rodoviários de cargas em geral, dia 24 de junho foi firmado acordo entre as prefeituras de São Paulo e Garulhos, com o governo federal, para a construção das alças de acesso à rodovia Fernão Dias. “Após 22 anos de luta, festejaremos apenas no dia em que o primeiro veículo cruzar o viaduto em direção ao seu destino”, disse o presidente do Setcesp (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo), Uruban Helou. O projeto de construção da alça existe desde os anos 90.
O administrador geral, Wagner Leopoldo Guter – que está no cargo há seis meses – acredita que quando a segunda fase do complexo Fernão Dias estiver concluído se fixarão no local mais ou menos 70 galpões de empresas transportadoras. “Com a alça de acesso concluída, a expectativa é que cerca de 80 mil veículos circulem pelo local”, diz.
“Conheço empresa que não aceitou alugar prédio no local porque o complexo não tem acesso para as rodovias e os motoristas precisam rodar muito para chegar até aqui passando por locais ruins para o tráfego de caminhões”, conta Alex Bonetti da Agência de Carga Apoio, uma da 13 instaladas no terminal, que conta também com restaurantes, lojas de presentes, caixas eletrônicos, telefones públicos, banheiros e salas de banho (masculino e feminino) que funcionam das 8 às 10 horas e das 16 às 21 horas. Guter diz que 99% dos motoristas utilizam as salas de banho porque permanecem em média três dias no local. Cada banho custa R$ 1,50.
Juarez Fernandes da Silva, autônomo de Cuiabá/MT, vem todas as semanas para São Paulo carregado de compensado e depois segue para o terminal em busca de carga de retorno. Ele acha que a estrutura é boa, mas poderia ser melhor e reclama que os telefones, por exemplo, são poucos e deveriam estar localizados em local coberto. “Poderia se ter o dobro de aparelhos instalados e aponta para uma parede ao lado das salas de banho como o lugar ideal, por haver pouco barulho.
Com 40 anos de idade e dono de um Mercedes-Benz 1313, ano 86, Silva garante que os telefones quebrados não são por vandalismo mas por excesso de uso. “Há muitos motoristas para poucos aparelhos”, reclama.
A administração, por sua vez, conta com 18 funcionários, entre os quais estão os que trabalham na área administrativa, segurança, portaria, limpeza e etc para dar atendimento a toda infra-estrutura do Rodoshopping. Além disso, do lado de fora existem cinco agências que funcionam em um prédio (onde anteriormente existia uma agência do correio) que não pertencem ao condomínio, além de três estacionamentos e um posto de serviço e um da Polícia Militar.
Os estabelecimentos instalados do lado de fora não fazem parte do terminal. Os estacionamentos quem toca é uma empresa que obteve a concessão da Emurb – Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo”. Nós aconselhamos os motoristas a tomarem cuidado com seus caminhões e também com pessoas que vêm oferecer frete na parte de fora, porque correm o risco de aceitar uma carga inexistente e serem ludibriados. Aqui dentro nós somos responsáveis. Lá fora não”, explica Guter.
Com 48 anos e muitas horas de volante, João Sérgio Santos tem um caminhão Volkswagen 16.210 ano 90 com o qual transporta material para a empresa Triunfo, com sede em Campo Grande/MS a São Paulo. Ele traz compensado todas as semanas e recebe pelo frete R$ 1.600. “Depois a gente vem para o Rodoshopping buscar carga de retorno. Normalmente, aceitamos valor menor só para não voltar vazio. Cobrindo os gastos da viagem está bom”, se conforma.
Ele elogia a estrutura do Terminal Fernão Dias, mas diz que é preciso haver mais de um bebedouro no local e também ter acesso às rodovias. “Para chegar aqui a gente passa por ruas estreitas, com quebra molas e de grande movimento. “É um perigo”, alerta. Segundo ele, quando termina a época da safra, os motoristas todos vêm para São Paulo e fazem paradas terminal, porque é onde encontram melhor estrutura.
Ele aponta a unidade do Sest Senat – Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte como um dos pontos alto do local. “Lá dentro tem uma série de benefícios que podemos usufruir”. Luís Rafael Cardieri Marchesi, gerente do posto do Sest Senat diz que a unidade funciona desde 1995 e foi a primeira a ser inaugurada no Brasil. Nela, o motorista encontra lazer, atendimento médico, odontológico e participa de cursos diversos: MOPP (Movimentação e Operação de Produtos Perigosos), Direção Defensiva, Arrumação de Cargas, Conferência de Cargas, entre outros.
Marchesi lembra que recebe cerca de 200 pessoas por dia e diz que o bom atendimento da unidade não seria possível sem a parceria com o Rodoshopping. Em eventos paralelos, por exemplo, como a Missa realizada no dia 25 de julho, em comemoração ao Dia do Motorista, a participação supera a casa das 500 pessoas; campanhas voltadas para os filhos dos motoristas e Transporte & Cidadania voltado à comunidade.
Souza mora em Bragança Paulista, mas veio de Belo Horizonte com seu caminhão Mercedes-Benz 1113, ano 77 carregado de tubos. Há 20 anos ele viaja pelo Brasil e sempre que vem a São Paulo passa pelo terminal. “Sempre que posso participo dos treinamentos oferecidos pelo Sest Senat e, quando encontro parceiro, jogo bilhar, “pebolim” ou apenas descanso”.
O autônomo conta que, anteriormente, naqueles locais (aponta para duas áreas desativadas) funcionavam a Sala dos Motoristas e ao lado uma grande churrascaria. Na sala havia TV, jogos, cafezinho, água e outras coisas. Ela permanecia aberta até às 23 horas. “Fecharam há três anos. O restaurante, também era muito bom funcionava a noite toda e tinha música ao vivo. Há dois anos está fechado”.
Souza não utiliza as agências para conseguir frete porque costuma fazê-lo no Terminal de Cargas diretamente das transportadoras, mas garante que seus colegas costumam fechar cargas nas agências do prédio ao lado e nunca tiveram problema, porque todas são muito idôneas. “O perigo está nos estacionamentos lá de fora, roubam tacógrafo, lona e outras coisas”, alerta.
O administrador do Rodoshopping explica que na sala citada por Souza funcionou por algum tempo o Clube Irmão Caminhoneiro Shell e o restaurante era um rodízio muito bom, que fechou as portas porque não houve interesse do proprietário em continuar tocando o negócio, mas ele pode ser reaberto a qualquer momento desde que haja interessado em reativá-lo.