Por Katia Siqueira

Os transportadores rodoviários estão insatisfeitos com os resultados desta safra, cujo volume deverá ser de apenas 123,5 milhões de toneladas ao invés das 135,9 milhões de toneladas previstas inicialmente, registrando a maior quebra da história. Deixarão de ser produzidas 12,4 milhões de toneladas, por causa da seca que afetou o Sul e o Centro do País, regiões que concentram 60% da produção nacional de grãos. Mesmo assim, o volume ainda é superior ao de 2004, que rendeu 119,2 milhões de toneladas. Contudo, os fretes estão bem abaixo do desejado para compensar os custos dos carreteiros.

476

Tudo aumenta no Brasil: imposto, diesel, pneus, peças, pedágio. Só o frete continua lá em baixo. Houve época em que a safra rendia quase um caminhão novo para nós, autônomos, mas hoje a realidade é outra. Se der para pagar as contas é muito”, reclama Luís Altino dos Santos, 62 anos (30 de carreira) e dono de um Mercedes-Benz 1113 ano 75, com o qual transporta grãos.

Para Celso Krein, assessor administrativo da Associação dos Caminhoneiros Luverdense, o preço do soja está muito baixo, fazendo o produtor segurar o produto. Dessa forma cai o volume de carga, sobra caminhão e o frete não compensa. “Além disso, os motoristas precisam trafegar por estradas, cheias de buracos, sem sinalização e acostamento, fatores que aumentam os custos.”

477

Ele aponta Lucas do Rio Verde, Sorriso e Guarantã do Norte/MT como regiões esquecidas pelo governo, onde os próprios municípios tapam os buracos. “Percurso que se levaria 60 minutos demora o triplo do tempo. De Sorriso a Sinop, trecho de 90 quilômetros, leva-se três horas para ser percorrido”, diz ele.

A denúncia do assessor vai de encontro aos dados do Dnit – Departamento Nacional de Infra-estrutura e Transporte. Segundo o órgão, 40% dos 48 mil quilômetros de rodovias federais do País estão em mau estado de conservação. Ao todo, 18,8 mil quilômetros estão em condições precárias, 14,2 mil quilômetros em estado regular e só 30% podem ser considerados bons.

A situação é pior nos Estados do Norte e Nordeste, onde em geral mais de 50% da malha rodoviária estão em más condições. Em Mato Grosso, cuja malha tem 2.578,90 quilômetros, 27,4% estão em boas condições, 31,9% em estado regular e 40,7% ruim. Proporcionalmente, Alagoas apresenta o pior resultado. Em uma extensão de 740,60 quilômetros de estradas, apenas 4,7% estão em boas condições, 22,6% regular e 72,7% em más condições.

478

Um estudo da CNT – Confederação Nacional do Transporte, realizado no final de 2004, identificou 167 pontos críticos nas rodovias federais do País. Em Minas Gerais estão localizados 33 desses pontos. Os principais problemas são 18 quedas de barreira, 77 casos de erosão na pista, 10 pontes caídas e 62 casos de proteção lateral das estradas destruídas. Grandes buracos nas pistas são os problemas de maior incidência. Segundo Krein, além do problema de falta de infra-estrutura, este ano os transportadores estão recebendo menos para trabalhar.

A colheita da safra em Lucas, Sinop e outras regiões de Mato Grosso já havia terminado na primeira quinzena de abril, o que leva a crer que o valor do frete não vai melhorar. De Lucas a Cuiabá, o motorista carregou por R$ 35,00 a tonelada, contra R$ 40,00 pagos na mesma época em 2004.

479

Moacir Sandri, gerente da Transportadora Roma que atua em Rondonó-polis/MS diz que o movimento da safra este ano está bem atípico. Até o momento, só 40% do volume foi movimentado, quando o normal seria no mínimo 60%. “Só para dar uma idéia, em 2004, nesta mesma época do ano, a Roma embarcava de 10 a 11 mil toneladas/dia. Este ano, estamos carregando cerca de 6 mil toneladas/dia”.

Com uma frota de 300 carretas, entre próprias e agregadas, o grosso do carregamento da Roma está entre Lucas, Sorriso, Nova Mutum e Sinop, na rodovia BR- 163. São cargas que envolvem, em média, 800 quilômetros, com um frete de R$ 67,00 a tonelada de Lucas a Alto Araguaia, 6% mais que os R$ 63,00, pagos em 2004. “Esse frete deveria ter um reajuste mínimo de 20% para compensar o aumento do diesel, manutenção e desgaste das peças por trafegar em rodovias ruins”.

Ele conta que o motorista leva 12 horas para fazer um percurso de 500 quilômetros. O veículo sai de Sinop às 8h00 e chega às 20h00 em Cuiabá e pára para dormir, quando poderia retornar, caso a rodovia fosse boa.

480

Jair Rodrigues Flávio, gerente do posto de serviço Cupim, que fica no km 6 da BR-277, em Paranaguá/PR, estava desconsolado pelo fraco movimento deste ano. “Em 2004, nesta época tínhamos fila de cinco quilômetros e pátio, para 150 carretas, lotado. Não precisa nem dizer que o volume de vendas caiu significativamente”, conta.

Ele lembra que em 2004 o posto vendia um milhão litros/mês, contra 500 mil litros/mês hoje. “Isso tudo graças ao nosso governo do Estado do Paraná, que vetou o produto transgênico, que já representa 70% do volume que chegaria em Paranaguá, assim como os fertilizantes, adubo, etc.”, reclama. “O movimento está sendo desviado para o Porto São Francisco, em Santa Catarina. “Nosso pátio está vazio. Não sei até quando poderemos permanecer funcionando com esse movimento”, confessa.

MERCADO DE PESADO RECUOU

Houve um grande recuo no valor do soja e o produtor está vendendo apenas o necessário para quitar alguns compromissos. Com isso teremos um transporte alongado, executado por menos autônomo e pouco caminhão”, explica Roberto Leoncini, gerente executivo de vendas de caminhões da Scania. Ele diz que a empresa fechou dezembro de 2003 com carteira de 180 dias de produção, contra 90 em dezembro de 2004. “No primeiro bimestre do ano passado tivemos um “boom” inesperado e ninguém conseguia entregar o produto”.

De acordo com ele, historicamente, o agronegócio participa com 28% das vendas do segmento de pesados, mas no ano passado representou quase 40%. “2004 foi um dos melhores anos para o setor, que encerrou o exercício com vendas de 25.197 unidades, contra 17.856 em 2003, registrando um crescimento de 40%. As vendas da Scania, por sua vez, cresceram 48%. Foram comercializados 6.063 caminhões, contra 4.106 veículos no ano anterior”, concluiu.

A Iveco, comercializou 1.055 unidades no primeiro trimestre de 2005, 37,9% dos 765 veículos de igual período em 2004. O EuroTech 450E37T, que pode ser financiado via Finame, é o que tem maior influência da safra em sua performance. O segmento de pesados da marca foi o que mais cresceu em vendas. Foram vendidos de janeiro a março deste ano, 368 unidades, contra 271 em igual período do ano passado, obtendo um crescimento de 35,8%. “Esse percentual é representativo, uma vez que a Iveco é a única a apresentar crescimento superior à 10%”, diz Vicente Goduto, diretor nacional de vendas.

Segundo ele, a participação dos produtos Iveco no mercado também cresceu no primeiro trimestre, de 5,3% em 2004 para 7,4%. Diante disso, a empresa continua projetando vendas de 2.400 pesados em 2005, contra 1.600 unidades em 2004.

No seu entender, o fato do produtor segurar safra à espera de melhor preço, não altera porque cedo ou tarde ela será transportada, para dar lugar à colheita de 2006. “A Finame também tem ajudado, nas vendas, pois ele oferece uma taxa de 14,5% contra 19,5% cobrada no mercado”.

A Volkswagen Caminhões e Ônibus, fechou o primeiro trimestre com vendas de 6.382 unidades, 17,6% acima dos 5.425 veículos vendidos em igual período do ano passado. Do total, os segmentos de pesados e semipesados participaram com 1.036 unidades e 2.299, contra 994 e 1.624 em 2004 registrando um aumento de 4,2% e 41,6, respectivamente.

Cid Manechini, gerente de vendas da VCO, lembra que a safra puxou toda a economia em 2004, principalmente, as vendas de caminhões. Este ano não foi dessa forma. “A quebra de 20% na colheita dos Estados do PR, SC e RS, a queda no preço da saca do soja de R$ 50,00 para R$ 24,00 e a baixa do dólar tiveram influência nas vendas do segmento que atende o agronegócio, o qual representa 15% do volume da marca”, conta.

Para o gerente de marketing caminhões da DaimlerChrysler, Eustáquio Sirolli as vendas dos 1938S e 1944S 6×2, que tracionam bitrem estão dentro da normalidade. De janeiro a março deste ano, a empresa vendeu 200 e 44 unidades, respectivamente. “Importante lembrar que o produto tem o ABS de série e não como opcional”.

Sirolli diz, que a empresa está trabalhando para atender a demanda do ano passado. “Acabamos de lançar o Atego 2425 trucado de fábrica, que também atende o segmento agropecuário”, conta.
As vendas da marca no primeiro trimestre atingiram as 6.121 unidades, 7% sobre as 5.722 do ano passado. Os veículos pesados participaram com 1.063 e os semipesados com 2.271, contra 1.294 e 2.130 de igual período de 2004, desempenho 1,6% maior e 17,9% menor (respectivamente), quando comparados ao ano passado.

A Volvo, vendeu de janeiro a março, 1.637 caminhões, 5,2% mais que os 1.556 veículos do mesmo período de 2004. Os pesados participaram com 1.397 unidades, contra 1.285 unidades em 2004, ficando 8,7% superior. Os semipesados, alcançaram a casa das 240 unidades, 11,4% inferior aos 271 veículos de 2004.

As vendas da Ford, de janeiro a março deste ano, também cresceram. A empresa comercializou 3.932 unidades e registrou crescimento de 3,9% sobre os 3.785 veículos vendidos no primeiro trimestre de 2004. Os pesados e os semipesados tiveram participação importante nas vendas da marca. Foram vendidos 1.082 semipesados, contra 937 unidades, em 2004, com crescimento de 15,5% e 421 pesados, contra 461 registrando uma queda de 8,7%.

SEM FILA NO PORTO

Os novos procedimentos opera-cionais adotados pela Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA) permitiram que se atingisse as expectativas traçadas pela administração portuária em relação à otimização do fluxo de caminhões carregados com grãos em direção ao Corredor de Exportação e aos terminais privados.

No último final de semana de março, 1.500 caminhões descarregaram no Silão e nos terminais privados do Porto. A sincronia das operações de chegada e descarga garantiu melhor performance do Porto de Paranaguá, fazendo com que na segunda-feira (21/03), o pátio de triagem amanhecesse com 300 vagas. Para se ter uma idéia do que estes números representam, na segunda-feira anterior (14/03), 800 caminhões passaram pelo pátio, que amanheceu naquele dia com mais vagas ocupadas e fila nas proximidades do km 40 da BR 277.

Segundo o superintendente da APPA, Eduardo Requião, a meta foi possível depois de implantadas às medidas que visam o controle mais eficaz do fluxo de veículos e de cargas e o atendimento das cotas mínimas de veículos, conforme as características e as condições de recebimento de cada terminal. “Nosso propósito é que os terminais utilizem suas infra-estruturas para garantir, com qualidade e velocidade, o escoamento da safra”, disse.

Para ele, a segurança dos motoristas de caminhão e dos terminais com as atividades da operação safra permite que as operações mantenham-se contínuas durante 24 horas. “Nossa logística mostra que podemos ser ágeis e seguros, mas dependemos da união de esforços para manter nossos níveis de produtividade em alta, sem filas, ou congestionamentos”, disse Requião.