Por João Geraldo

Quando o assunto é motor diesel, os produtos brasileiros se equiparam aos de países tidos como mais avançados tecnológicamente. As diferenças observadas se devem a certos componentes desnecessários à realidade do mercado brasileiro, tanto é que os engenhos mais modernos aqui produzidos estão a frente das exigências da legislação vigente em termos de emissões. Pelo menos isso é o que garante os principais fabricantes aqui instalados, Cummins, International Engines e MWM.

Os motores produzidos no Brasil tem o mesmo nível de tecnologia dos produtos europeus ou norte-americanos. Ocorre que alguns componentes que não necessitamos aqui são omitidos em nossos motores para que seu custo fique mais adaptado à nossa realidade de mercado”, diz Luiz Afonso Pasquoto, diretor de marketing e vendas de motores Cummins.

Estas diferenças, explica, se restringem a sub-sistemas de controle de emissões, como o EGR, um sistema que recircula gases que é necessário para tender uma norma americana, porém pode ser descartado, por enquanto, na Europa e Brasil. Mas ele reforça que tudo que é colocado nos motores feitos no Brasil tem a mesma qualidade lá de fora, tanto é que a Cummins exporta seus produtos para os Estados Unidos e Europa. “Aliás, estamos exportando como nunca”, destaca.

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Se o assunto é exportar, a International Engines também está em dia com seus produtos. A empresa tem uma família de motores V8 (de 175 a 265cv de potência) que são enviados para os Estados Unidos e México, além de serem aplicados na linha de picape Ford F-250 montadas no Brasil e exportadas para a Austrália. “São motores cem por cento eletrônicos, dos quais já foram produzidas dois milhões de unidades desde o lançamento em 1994”, adianta Pérsio Lisboa, diretor de vendas da companhia.

A empresa tem, ainda, outras duas famílias de motores: o MS (Medium Speed), mecânicos de quatro cilindros, que vão de 60 a 140cv de potência e são aplicados em máquinas agrícolas, equipamentos industriais, grupos geradores, etc. A outra família é a HS (High Speed) de 3 e 4 mil giros para aplicação destinada a utilitários como o Ford Ranger, Land Rover Defender montado no Brasil (o modelo feito na Inglaterra e comercializado para fora da Europa também utiliza este motor).

A MWM, por sua vez, fabricante de origem alemã, dispõe de versões do motor Sprint com injeção eletrônica (sistema Bosch Common Rail) voltadas para exportação, mas em breve estarão equipando veículos comerciais produzidos no Brasil. No entanto, o maior volume da empresa está na Série Sprint de quatro e seis cilindros aplicados em picapes, utilitários esportivos, vans, furgões, microônibus, caminhões leves e outros veículos produzidos no País. “Esses motores também são exportados para equipar vans e furgões denominados LT2, da Volkswagen, na Alemanha”, explica Marcos Gonzales, gerente de vendas e programas da MWM.

Os motores produzidos pela MWM atendem as mais rígidas normas de emissões requeridas na Europa, portanto, dentro de um padrão tecnológico mundial”, diz. Ele acrescenta que devido ao desenvolvimento, principalmente da família Sprint para exportações à Alemanha, foi possível a preparação de um produto que viria, posteriormente, a ser oferecido no mercado brasileiro, antecipando as necessidades locais.

O desenvolvimento dessa tecno-logia na família MWM Sprint capacitou a empresa a transferir para outras famílias os avanços propiciados pela injeção eletrônica”, concluiu.

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Na visão de Pasquoto, lançar no País produtos tecnologicamente avançados é uma demonstração de responsabilidade comunitária, pois se está poluindo menos do que a legislação permite. “Claro que existe um balanço entre o custo para se atender a isto e o benefício ecológico. A Cummins já se insere nisto, pois oferece motores Euro 3 para as montadoras há vários anos”. Ele acrescenta que além da vantagem proporcionada ao meio ambiente, o consumidor tem a certeza de que o seu produto terá existência no mercado por anos a frente, uma vez que o fabricante dá sinais de que deseja competir com o produto na próxima fase da legislação.

Pasquoto destaca ainda que o consumidor corre menos risco de ver seu veículo desvalorizado por uma possível saida de linha de fabricação do mesmo quando houver uma mudança de legislação. “O fato de atender a uma próxima fase de emissões é um atestado do fabricante que deseja manter aquele produto em produção por anos a frente”, acentua. O produto mais avançado da empresa é o motor Interact, já utilizado por ônibus e caminhões Volkswagen.

Futuramente será aplicado na linha Ford e outras marcas que a empresa não revela. O futuro, no caso da International Engines, é esperado com ansiedade pelos profissionais da empresa, com a chegada do novo motor eletrônico da marca denominado de NGB 3.8, dotado do sistema de injeção Common Rail. O produto trará uma inovação ao mercado brasileiro pois, segundo Pérsio Lisboa, será o primeiro com injeção pieso elétrico, pelo qual a válvula solenóide do Common Rail (que permite a passagem do combustível) é substituída por uma placa de cristal.

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É um sistema mais preciso em relação à quantidade de injeção e pré-injeção e tem a vantagem de proporcionar respostas mais rápidas. Vamos produzir este motor na versão Euro 3 para o mercado local , mas ele está preparado e desenhado para ser um Euro 4, por isso vamos ter uma versão para o mercado norte-americano”, adianta Lisboa.

Ele explica que o motor é dotado do sistema EGR, um sistema de recirculação de gases dentro do cabeçote para garantir que não seja jogado gases na atmosfera. Além disso, o injetor de combustível é posicionado em 90 graus para possibilitar o controle do spray dentro da câmara, como em todo Euro 4 . O motor terá aplicação desde utilitários esportivos a caminhões de 7 e 8 toneladas de PBT. O lançamento deverá ocorrer no segundo semestre deste ano.

Pelo lado da MWM, Marcos Gonzales cita que os produtos mais avançados da marca no Brasil são os eletrônicos da série Sprint e do projeto X12, os quais detêm tecnologia que permite à companhia competir em qualquer parte do mundo, pois atendem a mercados exigentes, como o europeu. “São motores que atendem padrões de emissões Euro 3 com o sistema de injeção Common Rail (Bosch) e permitem interatividade entre o veículo e o condutor, facilitando sua operação e manutenção”, destaca.

Ele tem opinião de que o motor diesel deverá ter suas aplicações ampliadas, pois as novas tecnologias de injeção, a partir da eletrônica, permitirão uma melhor associação do combustível aos ganhos para o meio ambiente, no aspecto de emissões de gases e ruídos. Ele aposta também na possibilidade de associação do diesel com outros combustíveis de origem renováveis (biodiesel) que servirão para reforçar a utilização de motores diesel.

Pasquoto ressalta que os motores diesel serão cada vez mais limpos, com menos emissões de poluentes e sonoras. “Hoje, com as tecnologias eletrônicas e sistemas de injeção, o motor diesel já tem vantagens sociais sobre o motor a gasolina. É certo que com o aperto das legislações ambientais eles vão ficar cada vez mais limpos”, diz. “É certo também que teremos tecnologias alternativas, como células de combustível, no balanço da economia, durabilidade e custo. O motor ciclo diesel será uma opção preferencial para aplicações pelas próximas duas décadas, pelo menos”, conclui.

A International Engines também apostas no futuro do motor diesel, tanto é que iniciou a cerca de cinco anos um projeto para se criar uma base no Brasil para dar suporte e atender a companhia no mercado norte-americano. “Já começamos a desenvolver fornecedores locais e enviamos de Canoas/RS para os EUA o conjunto do cabeçote com válvulas, molas, enfim, pronto, para ser acoplado no motor DT 466 de 7,6 litros, lançado em fevereiro deste ano e que atende as emissões no País”.

Lisboa adianta que a partir do final de 2005 a empresa começa a montar no Brasil ( em Canoas/RS) um motor também lançado em fevereiro deste ano nos EUA com a denominação NGD 9.3 (de 9.3 litros) e depois também o DT 466. Enfim, o objetivo é abrir portas e exportar para outros mercados, inclusive aqueles onde os volumes são pequenos, como o mexicano a partir de uma base na América do Sul.

A MWM, por sua vez, tem produção superior a 50 mil unidades ano da Série Sprint de quatro e seis cilindros para aplicações em picapes, vans, caminhões leves, ônibus, etc. A empresa atende também o setor de máquinas agrícolas, equipamentos rodoviários, grupos geradores, bombas de irrigação, etc com a Série 229 de três, quatro e seis cilindros. Além disso, a série 10, quatro e seis cilindros, destinada a caminhões ônibus e outros.

Para as aplicações em ônibus urbanos, a empresa já está produzindo as versões eletrônicas do projeto Série 12, que equipa o microônibus e ônibus com chassi Volkswagen com dianteiro e traseiro. Quanto à produção, a empresa espera produzir 80 mil unidades este ano, das quais oito mil serão exportadas para mais de 30 países.