Revista O Carreteiro – Qual a relação que existe hoje entre a Scania, Grupo Volkswagen e a MAN?
Leif Östling – Esta questão é de difícil entendimento, mas é importante voltarmos um pouco na história para explicar que a relação com a Volkswagen vem desde 1948, quando a Scania se responsabilizou pela distribuição dos automóveis Volkswagen, não só na Suécia, mas em toda a Scandinávia. Este relacionamento se estreitou ainda mais a partir do final de 1980, quando se formou uma parceria entre as duas empresas, com 50% para cada parte.

O Carreteiro – Em que momento o Grupo Volkswagen deu um passo adiante envolvendo as duas empresas?
Leif Östling– A partir de abril de 2000, a Volkswagen deu um passo adiante e se tornou sócio majoritário da Scania, superando inclusive a participação da família Walenberg, os fundadores da empresa. Com isso, os 50% da organização de distribuição de veículos que a Scania possuía foram vendidos para a própria Volkswagen, que participa do conselho administrativo da Scania com a presidência e mais duas cadeiras.

O Carreteiro– Quanto a Volkswagen detém hoje da Scania?
Leif Östling– A Volkswagen deu um passo adiante em abril de 2008 e hoje detém 75% das ações com poder de voto, e quase 41% do capital, entre ações ordinárias e preferenciais, e a constituição do board continua sendo com três representantes da Volkswagen no conselho. Em resumo, esta é a história que mostra a integração dos pensamentos das duas empresas.

O Carreteiro– E sobre o evento da MAN ter feito uma oferta de compra da Scania?
Leif Östling– Em setembro de 2006 houve tentativa da MAN de aquisição da Scania, isso é definido como uma tentativa de compra hostil. Mas em janeiro de 2007, os principais acionistas da Volkswagen e a família Walenberg deram uma negativa para a transação.

O Carreteiro– Quando a Volkswagen se tornou acionista majoritário da MAN?
Leif Östling– Simultaneamente à essa negativa, a Volkswagen tomou uma posição tornando-se acionista majoritária da MAN, com cerca de 30% das ações.

O Carreteiro– E sobre a cooperação técnica entre Scania e Volkswagen?
Leif Östling– No início de 2007 havia discussões e estudos com o chairman do conselho da Volkswagen e da Scania para a introdução e cooperação técnica da Scania com caminhões médios da Volkswagen no Brasil, mas acabou se concluindo que havia uma diferença muito grande entre o portfólio de produtos das duas marcas no que resume a parâmetros e definição de projetos. Em discussões que incluíram até a participação do senhor Roberto Cortês, foram feitas análises do banco de clientes e aí se identificou claramente uma distinção muito grande entre os clientes que adquirem caminhões médios ou que atuam com transporte utilizando esta ferramenta, e aqueles dos extrapesados. Havia muito pouco em comum entre o perfil dos clientes.

O Carreteiro– Então as diferenças de projetos e produtos foram decisivos?
Leif Östling– Potências, capacidades e limites técnicos eram bastante distintos, porque a linha da Volkswagen de leves, médios até os semipesados, juntamente com outros parâmetros em relação à durabilidade e o ciclo de vida dos produtos. No caso dos caminhões Scania, o projeto é feito para uma durabilidade ao redor de dois milhões de quilômetros, e o produto da Volkswagen, até mesmo pela sua aplicação, como veículo médio, o projeto objetiva vida útil ao redor de 600/700 mil quilômetros. Então, a conclusão foi que não havia grandes sinergias a serem aproveitadas com esta cooperação técnica.

O Carreteiro – Neste caso, o ideal seria então a Volkswagen procurar outra empresa para esta parceria?
Leif Östling– Este estudo comparativo seria mais lógico colaborar com a Volkswagen alguém que tivesse conhecimento de mercado e de engenharia do segmento de caminhões médios. Nesse caso parece ser lógico a MAN, que tem a linha de médios. Então essa cooperação fazia mais sentido, o que acabou ocorrendo. Dentro da filosofia Scania, de foco no segmento de extrapesados, não havia interesse na América do Sul. A MAN, por sua vez, não tem presença na região, então não está se criando nenhuma confusão, está havendo uma complementação. Para a Scania seguir os mesmos passos teria de desenvolver toda uma gama de produtos no segmento dos médios, o que não é, definitivamente, nosso foco. Sabemos fazer bem caminhões extrapesados.