Por João Geraldo

“Tecnologia não é luxo e nem custa mais”. A afirmação é de um dos grandes operadores de logística do Brasil, Mário Ari Luft, da Luft Logistics, referindo-se, entre outros itens, ao sistema de freio a disco, o qual está presente em toda sua frota de caminhões e carretas por acreditar que se trata de um componente de grande importância para a estabilidade e segurança do caminhão e também como um fator de economia.

Os caminhões leves Mercedes- Benz 710 e 712C foram os primeiros a disponibilizar o sistema no eixo dianteiro. Depois vieram o 715 e 915 e LS 1938 com disco nos dois eixos, em 1998. O sistema ganha espaço a cada ano e atualmente 10 modelos da marca, do 1933 ao 2644 tem freio a disco total como item de série. Uma exceção é o fora-de-estrada 3340 6X4 e os modelos da linha média até os semipesados. “Em relação ao ABS, o sistema está presente em todos os 6X2 e 6X4 da marca”, informa Eustáquio Sirolli, gerente de marketing caminhões da DaimlerChrysler do Brasil.

Sirolli acrescenta que a DaimlerChrysler foi bastante ousada ao adotar o freio a disco para os caminhões que produz no Brasil e lembra que a empresa desenvolveu o “cocon”, um equipamento de proteção para que o sistema dure mais. “O freio a disco só tem vantagens em relação ao sistema de tambor. Uma delas é quanto mais quente fica o disco maior é a eficiência”, explica. Ele conclui dizendo que o Brasil tem o domínio da mais avançada tecnologia no campo do freio a disco, porque a condição de nossas rodovias se aproxima bastante de uma off-road da Europa.

Um frotista do setor que sai em defesa do freio a disco e também de outros itens, tais como o freio ABS, suspensão ar e caixa de marchas automatizada, é Mário Luft. Para ele, pelos menos os bitrens e carretas com eixos distanciados deveriam ter disco, inclusive por questão de segurança. “É ilusão pensar que custa mais”, defende o empresário, que lembra também da necessidade de haver uma renovação da frota no País, principalmente da que transporta produtos químicos e carga líquida. Outros itens defendidos por ele são molas pneumáticas, porque deixam o caminhão “mais no chão” e a aplicação exclusiva de cavalosmecânicos 6X4 para tracionar semireboques. “Acho que o cavalo 6X4 é o futuro”, antecipa o empresário.

1976

Um dos grandes fabricantes do setor de freio a disco, a Knorr-Bremse, que fornece o sistema para a Mercedes- Benz, realiza desde 2003 um trabalho junto aos frotistas para a disseminação do produto no País. De acordo com Salvador Pugliese, gerente de aftermarket e América Latina da empresa, trata-se de um trabalho desenvolvido junto a frotistas, que conta inclusive com acompanhamento do desempenho dos produtos. “Temos uma equipe direcionada a trabalhos de treinamentos, palestras e até instalação de novos produtos, como é o caso do freio a disco, entre outras atividades de campo”, explica.

Pugliese diz que já foram instaladas mais de 100 mil unidades de freio a disco em caminhões no Brasil. Na sua opinião, a principal barreira para explicar porque o sistema não é utilizado por maior número de veículos de carga no País não é o preço. “Não acredito que este problema seja preço, mas sim a falta de conhecimento do real valor que o freio a disco pode agregar, porque reduz o consumo de diversos itens, além de tornar a dirigibilidade mais segura”, explica.

Do ponto de vista de Luft, o investimento inicial não é tão alto , pois o preço de um conjunto de freio a disco mais o ABS para uma carreta gira em torno de R$ 13 mil. De acordo com ele o investimento vale a pena, porque traz várias vantagens, como maior estabilidade e dirigibilidade do veículo, segurança, menor consumo de pneus, menor manutenção de freio. “Uma lona custa hoje R$ 200,00 e exige a troca do tambor a cada 50 mil quilômetros. No caso do disco é trocado a 200 mil quilômetros e custa R$ 350,00”. Ele acrescenta que chega a demorar um dia para efetuar a troca de lona, enquanto o disco consome bem menos tempo. Portanto, a manutenção custa bem menos e com todas as demais vantagens oferecidas pelo sistema.

Simulação feita pela Knorr-Bremse mostra que uma carreta (cavalo- mecânico mais semi-reboque) equipado com freio a tambor em todo o conjunto chega a percorrer 108 metros entre a frenagem até a parada total. Na mesma condição, porém com o conjunto equipado com freio a disco, a distância percorrida cai para 76 metros. Com disco só no cavalo são 92 metros, de acordo com a empresa. Pugliese, pelo seu lado, continua a desenvolver seu trabalho de campo e acrescenta que atualmente a Knorr-Bremse fornece o sistema também à Scania, para ônibus urbano de 15 metros.