Por Daniela Giopato
É fato comum motoristas que se envolveram em acidentes graves não se lembrarem de como tudo aquilo aconteceu. E, ao retomarem a consciência, se mostram surpresos com a dimensão e consequências da ocorrência. Especialistas dizem que diversos fatores podem ser responsáveis por acontecimentos deste tipo e destacam excesso de consumo de bebida e drogas, sono ou até mesmo doenças preexistentes, tais como pressão alta, diabetes e obesidade, males que podem levar o condutor a sofrer um “mal súbito”, manifestação do próprio organismo que ocorre de maneira inesperada e repentina. É como se o motorista “apagasse” por alguns instantes, deixando o veículo fora de controle.
Dentro desse conceito, conforme explica o cardiologista Igino Barp, se enquadram desde desmaios (motivados por exposição a calor excessivo, desidratação, falta de alimentação adequada, quedas de pressão arterial), até situações extremamente mais graves e potencialmente fatais (acidentes vasculares cerebrais, infarto agudo do miocárdio arritmias cardíacas). “Infelizmente, muitas vezes a manifestação inicial se dá de forma abrupta, o que para quem se encontra no volante de um veículo já prenuncia um desastre iminente”, explica Barp.
De acordo com estudos concluídos recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, estatísticas internacionais apontam correlação de alterações da saúde em condutores (fatores de risco) com aproximadamente 23% dos acidentes. Já dados do Incor – Instituto Nacional do Coração, mostram que o mal atinge cerca de 21.000 pessoas por ano, só na região metropolitana de São Paulo. Este número é duas vezes superior às mortes por causas externas (acidentes, suicídios etc.) e superior ao total de óbitos por tumores. No caso específico dos motoristas de caminhão, é preciso atenção especial, pois além de estarem ao volante de um veículo pesado são profissionais expostos a situações de risco. Além disso, alegam não terem tempo para se dedicarem à saúde, tornando comum a prática da automedicação.
Desde 2002, o Departamento de Polícia Rodoviária Federal, em parceria com o Sest Senat – firmada a partir de 2006 -, tem realizado o Comando de Saúde nas Rodovias, cujo público alvo são os motoristas profissionais. O trabalho tem caráter educativo com recomendações simples. Durante as ações são avaliadas doenças preexistentes, utilização de medicamentos impróprios, envolvimento em acidentes, tabagismo, pressão arterial, peso, altura, glicemia, colesterol, triglicérides, gordura corporal, sonolência e circunferência abdominal, entre outros.
Em 2009, o Comando avaliou 8.200 motoristas profissionais (caminhões e ônibus) em todo o território nacional e do total avaliado, 23,59% apresentaram carga horária excessiva; 15,13% com sonolência e 6,09% o uso de medicamentos impróprios. Os números foram obtidos através do preenchimento de ficha de saúde, baseados, portanto, no relato direto do próprio motorista.
Como meio de acrescentar dados recentes à operação, conforme explica Bianca Novaes, da divisão de saúde e assistência social, o Departamento de Polícia Rodoviária Federal, em parceria com o Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, pesquisou o uso de substâncias psicoativas para avaliar a situação preocupante, na qual o motorista profissional tem colocado em risco quem trafega pelas rodovias.
Dados divulgados pela concessionária Ecovias, responsável pelo sistema Anchieta-Imigrantes, mostram que a média dos 600 motoristas de caminhão entrevistados em maio e outubro de 2011, mais de 51% dormem menos de 12 horas, 44% fazem menos de três refeições diárias e 30% repousam menos de 6 horas por dia. Especificamente em maio de 2011, dos 300 carreteiros entrevistados 58% afirmaram ter jornadas de trabalho que superam 12 horas diárias. Dentre estes, um em cada 10 admitiram ter usado drogas ilícitas. Quanto às horas de sono e de alimentação, 31% dos carreteiros dormem menos de 6 horas por dia, enquanto apenas 33% realizam três refeições diárias. “Realizamos essa pesquisa (Biovia) duas vezes por ano e constatamos esses dados preocupantes sobre a rotina dos motorista há alguns anos”, informou José Carlos Cassaniga, diretor superintendente da Ecovias.
O cardiologista Igino Barp destaca que é importante o carreteiro estar sempre atento ao surgimento de sensação crescente e incontrolável de fadiga e cansaço, tonturas, vertigens, dor de cabeça de início súbito e de intensidade crescente. Outros sinais de alerta são dor no peito associada à náusea ou vômitos, suor frio abundante , palpitações, falta de ar, formigamento nas mãos e/ou pés e dificuldade para realizar movimentos. “As principais formas de prevenção contra o mal súbito são cuidar da saúde, não cometer excessos na alimentação, não utilizar drogas e álcool e respeitar os limites não só do caminhão e da estrada, mas também e, especialmente, do próprio corpo”, aconselha o médico.
DICAS DE SAÚDE |
1. Durante a viagem, mantenha-se alimentado e hidratado. 2. Dê preferência a alimentos leves e de fácil digestão, como frutas, legumes e verduras. 3. Evite doces, frituras e gorduras. 4. Durma bem antes de qualquer viagem de automóvel. O sono e o cansaço são grandes inimigos da viagem segura. 5. Antes de dirigir, não faça refeições pesadas. A digestão demorada aumenta a sonolência. 6. Na estrada, não descuide nem por um instante. Muita atenção ao realizar ultrapassagens. Só ultrapasse quando tiver certeza de que é seguro. 7. Não use estimulantes como rebite e outros produtos. Você pode até ficar alerta, mas o corpo continua cansado e, quando o efeito passar, você será pego de surpresa. 8. Quando o cansaço começar a bater, não insista. Pare em lugar seguro e descanse um pouco. 9. O condutor deve programar paradas a cada três horas, caso ele dirija por mais de quatro horas seguidas, corre o risco de comprometer sua circulação e, consequentemente, os seus movimentos, por permanecer muito tempo na mesma posição. 10. Se dirigir, não beba. Álcool provoca sonolência, desatenção, reflexos lentos, entre outras consequências. Fonte: Divisão de Saúde da Polícia Rodoviária Federal |