Por Evilazio de Oliveira

Com o setor industrial praticamente parado, custos em alta permanente e fretes estagnados, carreteiros autônomos e pequenos empresários ficaram sem mercadorias para transportar. Enfim, o ano passado andou para trás. E, conforme previsão de analistas políticos e econômicos, 2016 vai ser igual ou pior do que 2015. No trecho, para demonstrar que quem dirige caminhão é valente e crê no futuro, ainda há certo otimismo e esperança de melhora, embora sem saber ao certo quando.

Para que haja tranquilidade e possibilidade de crescimento do País é preciso que o Governo tenha credibilidade, reforça Gladys Vinci, gerente da ABTI
Para que haja tranquilidade e possibilidade de crescimento do País é preciso que o Governo tenha credibilidade, reforça Gladys Vinci, gerente da ABTI

Na opinião da gerente de Assuntos Internacionais da ABTI (Associação Brasileira de Transportes Internacionais), Gladys Vinci, apesar das promessas do novo presidente da Argentina em retomar as atividades comerciais com o Brasil e de um forte impulso à indústria nacional, o setor do transporte rodoviário de cargas ainda terá aspectos negativos em 2016.

Ela lembra o pessimismo no setor empresarial com o governo da presidente Dilma Rousseff e que agora se manifesta com muita intensidade, levando a crer que este ano já está comprometido. Gladys Vinci acrescenta que para haver tranquilidade e possibilidade de crescimento da economia é preciso que o governo tenha credibilidade, por isso acredita que o País só vai voltar a crescer quando houver ética na política, nos negócios e no governo.

Explica que o setor de transporte internacional evidentemente se ressentiu muito da crise que afeta Brasil e Argentina, os principais atores comerciais do Mercosul. Ela destaca que, ao menos no caso da Argentina, já existe uma renovação e promessas que são recebidas com muito otimismo pelo empresariado. Mas, adverte que nada será em curto prazo.

Mudanças políticas e econômicas na Argentina trazem boas perspectivas para o futuro do transporte de cargas internacional, avalia José Aldo Regazzon
Mudanças políticas e econômicas na Argentina trazem boas perspectivas para o futuro do transporte de cargas internacional, avalia José Aldo Regazzon

No início do ano passado, José Aldo Regazzon tinha quatro caminhões atuando. No transporte internacional, mas com agravamento da crise atingindo o setor de transportes de cargas teve de vender um. Ele, que é presidente da Cootrafol (Cooperativa Mista de Transportes de Cargas Nacional e Internacional da Fronteira Oeste), em Uruguaiana/RS, agora encontra-se um pouco mais otimista e planeja comprar um bruto seminovo e iniciar o ano trabalhando a pleno.

Regazzon acredita que as perspectivas para o futuro são boas, principalmente pelas mudanças políticas e econômicas que estão sendo feitas na Argentina pelo presidente Macri e os inevitáveis reflexos no transporte internacional de cargas. Segundo ele, quem superou a crise de 2015 vai deslanchar em 2016. Destaca que o desemprego no setor de transporte atingiu mais de 40 por cento dos trabalhadores e acentuada redução da frota.

Ao mesmo tempo, estima que houve um crescimento de cerca de 20 por cento no número de autônomos. A explicação é que com o agravamento da crise, motoristas que trabalhavam como empregados – e seriam dispensados – acabaram comprando os caminhões dos patrões e usando como pagamento os valores que receberiam como “indenização ou parte da indenização”. Portanto, continuaram trabalhando por conta própria. Regazzon diz que para muitos motoristas não foi um bom negócio, mesmo assim acredita que as coisas estão se acomodando e o Brasil voltará a crescer num prazo relativamente curto.

A redução da safra de arroz no Rio Grande do Sul, devido ao excesso de chuvas, ajuda a piorar a situação, destaca o carreteiro Antonio Lusardo Rosa
A redução da safra de arroz no Rio Grande do Sul, devido ao excesso de chuvas, ajuda a piorar a situação, destaca o carreteiro Antonio Lusardo Rosa

Mais realista, o carreteiro Antônio Lusardo da Rosa Nunes acredita que a situação da economia e do transporte rodoviário de cargas ainda vai piorar em 2016, principalmente pelos aumentos de impostos e redução na safra de arroz no Rio Grande do Sul em razão do excesso de chuvas”. Com 54 anos de idade e 34 anos de profissão, Nunes trabalha atualmente ao volante de um caminhão ano 88 e viaja apenas dentro do Estado. Diz que desistiu do transporte internacional e das viagens mais longas, mesmo sendo dentro do Brasil, em razão dos altos custos. “É a tal história de trocar seis por meia dúzia, ou apenas trocar dinheiro”, afirma.

Ressalta que no futuro pode ser que alguma coisa mude, mas vai demorar. Enquanto isso, o autônomo precisa trabalhar mais e ir se equilibrando para pagar as contas e ao menos manter o crédito para alguma emergência. Além disso, conservando o caminhão com muita economia e fazendo reparos ou substituição de componentes mecânicos somente quando for realmente necessário. “A crise tá feia”, resume.

Aos 74 anos de idade, o autônomo Tabajara Schettert Spacsek pretende trocar de caminhão para aumentar sua capacidade de transporte de grãos
Aos 74 anos de idade, o autônomo Tabajara Schettert Spacsek pretende trocar de caminhão para aumentar sua capacidade de transporte de grãos

O carreteiro Tabajara Schettert Spacsek, por sua vez, tem bastante experiência em enfrentar dificuldades e superá-las. Natural de Cruz Alta/RS, com 74 anos de idade e 56 anos de estrada, continua trabalhando e disposto a enfrentar as atuais turbulências econômicas. Reconhece que tudo está muito difícil, os custos de manutenção são altos e os fretes totalmente defasados. Por isso, planeja trocar o seu caminhão toco ano 81 por outro mais novo e trucado. Assim poderá aumentar a capacidade de transporte de grãos da lavoura para os silos, atividade que desenvolve há 40 anos para a mesma empresa, em Uruguaiana/RS.

Questionado se é o momento de fazer a troca do caminhão, ele responde que sim, porque é preciso estar atualizado e não correr o risco de ser multado por excesso de peso. Tabajara diz que tem algumas economias. Pretende vender o carro e se for preciso pega um empréstimo no banco para trocar de bruto. Lembra que as paixões da sua vida são caminhões, estrada e agora o neto Miguel. E quanto à esperança de melhoras, é enfático em dizer que pior do que está não pode ficar.

Juliano Rodrigues lembra que muita gente deixou de trabalhar com caminhão em 2015, mas a situação hoje está mais difícil ainda para quem vive do transporte
Juliano Rodrigues lembra que muita gente deixou de trabalhar com caminhão em 2015, mas a situação hoje está mais difícil ainda para quem vive do transporte

O estradeiro Juliano Rodrigues de Almeida, 31 anos de idade e 12 de profissão viaja entre Brasil, Argentina e Chile ao volante de um caminhão ano 2007. Ele lembra que em 2015 a crise foi terrível e levou muita gente a desistir de trabalhar com caminhão, na esperança de encontrar alternativas de trabalho. Mesmo admitindo ser otimista por natureza, vê com preocupação o futuro do País e, consequentemente, do transporte de cargas. “A situação está muito difícil, tudo muito caro, estamos trocando dinheiro e sem nenhum lucro no final do mês”, finaliza.