Por Evilazio de Oliveira

A preocupação com a conservação ambiental está aumentando entre carreteiros e donos de postos de combustíveis. Todavia, essa mudança de comportamento é lenta, com a maioria dos estradeiros dizendo uma coisa e fazendo outra. A começar pela manutenção da limpeza dos sanitários e banheiros e pátios de estacionamento, onde as reclamações são feitas de ambos os lados, cada um acusando o outro de falta de colaboração. Os donos de postos garantem que deixam o ambiente limpo, com lixeiras nos locais adequados, pátios varridos e sanitários higienizados. Em muitos casos, para manter a qualidade, optam pela cobrança dos serviços oferecidos, como estacionamento ou uso dos banheiros, mas nem sempre isso resolve. Os acúmulos de lixo às margens das rodovias, ou de pneus inservíveis abandonados a esmo é outra preocupação dos ambientalistas.

Para racionalizar o uso do banheiro, Milton Ferreira Assis utiliza sistema de ficha que controla o fluxo de água do chuveiro durante o banho
Para racionalizar o uso do banheiro, Milton Ferreira Assis utiliza sistema de ficha que controla o fluxo de água do chuveiro durante o banho

O certo é que nas estradas trafegam muitos tipos de motoristas de caminhão, fato que impede qualquer generalização, conforme destaca um gerente de posto. Ele salienta que o mesmo vale para os pontos de apoio, onde muitas vezes os administradores se desiludem e desistem de manter os locais limpos e adequados para o conforto do motorista. Mas, como a tendência é melhorar, a maioria prefere aperfeiçoar os serviços e manter um bom nível de qualidade, na esperança de continuar atraindo mais clientes ao mesmo tempo em que, dessa forma, vai educando os mais relutantes.

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José Vitorino afirma que é um defensor da natureza e que nunca descarta detritos nas margens das rodovias

No município de Santiago/RS, o empresário João Batista dos Santos, 60 anos, do Grupo Batista – que inclui borracharia, reformadora e venda de pneus, posto de combustível, hotel e churrascaria – tem uma preocupação permanente com a preservação e respeito ao meio ambiente. Desde 2007, o Grupo possui o Projeto Socioambiental Viva Verde, em que colaboradores, clientes e sociedade em geral são orientados sobre a necessidade de cuidar melhor do planeta, através de ações na empresa, escolas e comunidade, visando ao reforço da consciência ambiental e incentivo às mudanças de hábito em relação à produção do lixo e a economia das fontes renováveis, entre outros itens importantes. Segundo a opinião de João Batista, para mudar nossa mentalidade devemos nos conscientizar de que a preservação do ambiente é vital para a continuidade da espécie humana. Ele considera que os donos de postos de combustíveis podem colaborar nesse sentido, orientando todos que transitam nos estabelecimentos através de panfletos, conversas e placas. “Enfim, há muitas maneiras, dependendo da criatividade e do interesse de cada empresário desse ramo”, acentua. Acredita que todas as empresas, não só as de transportes, devem orientar seus colaboradores, pois os empresários geralmente são líderes e formadores de opinião, portanto devem assumir o seu compromisso social e disseminar a cultura de reeducação em relação ao ambiente em que vivemos”.

Preocupado em manter limpo os locais onde estaciona, Deonir Trombini diz que os motoristas têm as costas largas e é sempre acusado de sujar as rodovias
Preocupado em manter limpo os locais onde estaciona, Deonir Trombini diz que os motoristas têm as costas largas e é sempre acusado de sujar as rodovias

De acordo com o empresário João Batista, a falta de cuidado com o meio ambiente não é uma exclusividade dos carreteiros e sim de toda a humanidade. “Não julgo uma falta de educação e sim falta de comprometimento, o que é normal a todo o indivíduo quando se trata da necessidade de mudar seus hábitos”. diz. Ele acrescenta que a necessidade de mudança não deve ser específica de homens ou mulheres, ou de determinadas classes sociais e profissionais e sim de todas as pessoas, pois trata-se de uma questão de salvar o planeta.

O gerente da Abastecedora ABM Ltda., empresa do Grupo Energia, que funciona na BR-386 – quilômetro 441, em Canoas/RS -, Milton Ferreira de Assis, 44 anos e 27 no ramo – lembra que poucos carreteiros se preocupam com a limpeza e conservação do ambiente natural. “Cobram muito, mas poucos fazem a parte deles”, explica. O movimento no local é praticamente de 100% de caminhões que costumam estacionar num pátio com capacidade para cerca de 30 veículos. Os carreteiros abastecem, pernoitam, cozinham, tomam banho, fazem pequenos reparos no bruto ou simplesmente aguardam a liberação para carregarem.

Paulo Leandro afirma que nunca larga a sacolinha, mas tem observado que em muitos pontos de parada não existem locais adequados para descarte do lixo
Paulo Leandro afirma que nunca larga a sacolinha, mas tem observado que em muitos pontos de parada não existem locais adequados para descarte do lixo

Apesar de instalar lixeiras em locais estratégicos nas instalações do posto, Milton conta que é preciso manter uma equipe de funcionários cuidando da limpeza, varrendo o pátio e recolhendo o lixo jogado no chão. Até mesmo baldes de óleo ou filtros são abandonados, sem contar restos de comida ou cascas de frutas. Milton é natural de Governador Valadares/MG e conta que já trabalhou em diversos postos de combustíveis, todos com o mesmo tipo de problema em relação à conservação da limpeza do pátio e das instalações sanitárias. Por isso, numa tentativa de racionalizar o uso do banheiro, ele utiliza um sistema de fichas que liberam a água do banho por período de quatro a seis minutos. O carreteiro compra a ficha e precisa tomar o banho rápido, desocupando o lugar para o próximo na fila. Ele acredita que o hábito da limpeza, conservação do ambiente e respeito ao próximo é uma coisa que a pessoa traz de casa. E, embora tenha notado progresso nesse sentido entre os carreteiros, considera que ainda falta muito. Todavia, ressalta – não são apenas os carreteiros os responsáveis pelo lixo espalhado nas margens das estradas, pátios de estacionamento e sanitários públicos: muita gente fina e viajando em carrões de luxo também fazem das suas.

O estradeiro pode fazer muita coisa pela natureza, começando pela regulagem do caminhão, opina Celeste Fagundes, que viaja acompanhado da esposa
O estradeiro pode fazer muita coisa pela natureza, começando pela regulagem do caminhão, opina Celeste Fagundes, que viaja acompanhado da esposa

Enquanto guarda os utensílios de cozinha na “caixa”, quase em meio a uma poça com água, o carreteiro José Vitorino dos Santos, 56 anos e 38 de volante – natural de Umuarama/PR – garante que é um defensor do meio ambiente, zelando sempre pela preservação da natureza. Ele viaja de Naviraí/MS para Porto Alegre/RS ou para onde o mandarem, ao volante de um caminhão com baú frigorífico para o transporte de carnes. Afirma que nunca joga detritos nas margens das estradas, costuma reunir toda a sobra das refeições em saquinhos e levá-los para a lixeira. Nunca deixa sujeira por onde passa, afirma. Depois, aponta para restos de carne, nos fundos do caminhão, e explica que deixou ali para alimentar os cães vadios que rondam pelo pátio. Ao lado do lugar onde José Vitorino cozinha, um muro esconde um verdadeiro depósito de lixo, aparentemente jogado por carreteiros que estacionam no local. Segundo ele, a grande maioria dos estradeiros não se preocupa com a conservação ambiental. “Se salva um em 100”, estima.

Lixo espalhado ainda é cena em locais de estacionamento de caminhões
Lixo espalhado ainda é cena em locais de estacionamento de caminhões

O carreteiro Deonir Pedro Trombini, 52 anos e 34 de volante, natural de Maravilha/SC, se considera “um amante da natureza”. Segundo ele, todo o lixo é guardado em saquinhos especiais para ser depositado em lugares apropriados. Motorista de uma carreta graneleira, nas estradas do Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso, garante que tem visto muitos colegas relaxados, mas acredita que a maioria não seja assim.

Considera-se até um pouco enjoado na questão de limpeza, pois quando vai fazer algum conserto no bruto, troca de filtro, sangria de freio ou qualquer coisa que produza sujeira, costuma isolar tudo em volta e deixa o ambiente tão limpo como o encontrou. Lembra, no entanto, que os motoristas têm as costas largas e muitas vezes é o único acusado pela sujeira nas rodovias e nos postos de combustíveis, quando a responsabilidade deveria ser de todos.

Paulo Leandro da Silva Otero, 32 anos, 14 de profissão, é natural de Palmeira das Missões/RS e por questões profissionais mora em Balsas, no Maranhão. Ele dirige um bitrem e afirma que não larga a “sacolinha”, pois em muitos pontos de parada não existem locais adequados para a coleta de lixo. Prefere guardar as sobras na cabine até achar um local adequado para depositá-las. Reconhece que nem todos os carreteiros cuidam da limpeza dos locais onde estacionam, dos sanitários públicos. “Uma vergonha. E depois querem reclamar dos donos dos postos quando não encontram banheiros limpos ou precisam pagar por um banho”, desabafa.

Gaúcho de Passo Fundo, Celeste Fagundes de Oliveira, 57 anos e 34 de profissão, dirige uma carreta graneleira e viaja com a esposa, Maristela Bittencourt, 30 anos. Ele acredita que o estradeiro pode fazer muitas coisas pela conservação da natureza, começando pela boa regulagem do caminhão para evitar emissão de fumaça. E, também, utilizar um vasilhame adequado para evitar vazamentos quando vai trocar um filtro de óleo ou fizer algum reparo que de alguma maneira possa sujar o local onde está estacionado. E sempre que cozinha, Maristela preocupa-se em reunir as sobras em saquinhos para deixar nas lixeiras, conforme a sua natureza: seco, orgânico ou plástico.

O marido, Celeste Fagundes, tem opinião de que a consciência ecológica da população em geral tem melhorado muito nos últimos tempos. Porém, ressalta ainda que, precisa melhorar bastante. Enquanto isso, Maristela reclama da falta de cooperação das mulheres que viajam com seus maridos. Afirma que a maioria não cuida da limpeza e deixa restos de comida espalhados pelo chão, lavam a louça, panelas e demais utensílios e jogam a água usada em qualquer lugar, sem nenhum respeito. A mesma falta de higiene é observada nos sanitários femininos, “uma tristeza”. E depois tem gente que ainda quer exigir limpeza e conservação por parte dos donos dos postos, se nem mesmo as esposas dos carreteiros – que utilizam essas instalações – cuidam da higiene, lamenta. Celeste e Maristela garantem que, pelo menos eles, estão fazendo a sua parte na defesa do meio ambiente.