Depois dos platooning formados por caminhões de um mesmo fabricante, os avanços tecnológicos já permitem a orgnização de comboios multimarcas viajando interligados num mesmo padrão de rede. Redução do consumo de combustível e das emissões de gases na atmosfera estão entre os ganhos proporcionados pelas viagens em pelotões de veículos pesados
Por João Geraldo
Conhecidos mundialmente como platooning, os pelotões de caminhões, forma de viajar que se encontra em fase de testes pelos fabricantes de veículos pesados na Europa estão a cada dia mais próximos de se tornar comuns nas grandes rotas do continente. Há um consenso de que viajando em blocos – e com a distância entre um veículo e outro controlada por sistemas eletrônicos – é possível amenizar pontos críticos do transporte rodoviário de cargas, como aumento da segurança nas estradas, redução das emissões de CO2 na atmosfera, ocupação de menos espaço nas rodovias, além da redução do consumo de combustível dos caminhões que seguem atrás do comboio graças à redução do arrasto aerodinâmico.
A iniciativa leva em conta que o caminhão continuará exercendo principal papel de meio de transporte de carga considerando um aumento da demanda no futuro. Especialistas alertam que nos próximos 30 anos o volume de mercadorias a ser transportado deverá ser três vezes maior que hoje, o que aponta a necessidade de mais veículos em trânsito e, por consequência, maior eficiência na operação. Caso não sejam tomadas medidas, acredita-se que até o ano de 2050 o atual congestionamento poderá ser aumentado em até 50%.
Uma das medidas, já estudada há algum tempo, e já conhecida, é a dos caminhões viajarem em comboios. Por conta desse conceito, os grandes fabricantes de caminhão da Europa desenvolveram seus comboios. Entre final de março e início de abril de 2016, o projeto Platooning European Challenge 2016, uma iniciativa do governo holandês, reuniu platooning das marcas DAF, Iveco, MAN, Mercedes-Benz, Scania e Volvo, que partiram de suas respectivas bases ou países de produção em direção ao Porto de Roterdan, na Holanda.
O Platooning European Challenge 2016 foi uma forma de mostrar a viabilidade do sistema, o qual inclui, numa primeira fase, direção semiautônoma. Na ocasião, gerente do projeto da MAN, Daniel Heyes, disse que a viagem foi um sucesso e o evento como um todo contribuiu de modo significativo para colocar em foco a questão da condução autônoma de veículos comerciais. Disse ainda que a participação de diferentes fabricantes foi uma demonstração de que todos querem se unir.
Uma forma de união dos fabricantes, que provavelmente irá acontecer em breve, poderá ser a formação com caminhões de diferentes marcas num mesmo comboio. Em setembro passado, por exemplo, a ZF, empresa que além de desenvolver e produzir transmissões e eixos também desenvolve avançadas tecnologias que fazem o veículo “ver, pensar e agir”, por conta própria, apresentou no IAA (na Alemanha) como uma de suas novidades um padrão de rede para a formação de comboio com caminhões de diferentes marcas.
O trabalho da empresa em conjunto com os fabricantes de caminhões é parte de um projeto chamado de Essemble e co-financiado pela União Europeia com o objetivo de introduzir comboios formados por caminhões de diferentes marcas nas estradas do continente até 2021.
Em seu portifólio de soluções avançadas, divulgou possuir tecnologia que possibilita a formação desses platooning, incluindo sensores de câmera e radar, o supercomputador AF ProAI, mais o sistema de direção eletro-hidráulica e sistema de transmissão. A distância reduzida entre os caminhões em um comboio é possível porque em rede os veículos podem funcionar independentemente do tempo de reação do motorista.
De acordo com a ZF, os caminhões são conectados uns aos outros através de comunicação direta e se unem a uma distância ideal para formar o pelotão. Os veículos são projetados para frear e fazer curvas praticamente em tempo real, seguindo as reações do caminhão líder. E caso ocorra do caminhão líder ultrapassar involuntariamente as marcações da pista, sensores e funções autônomas de direção mantém os demais na faixa de rolamento.
Os sensores de cada veículo monitoram a situação do tráfego individualmente e os sinais de aceleração e de frenagem são transmitidos para o caminhão seguinte. Se o tráfego permitir, o pelotão restaura a distância ideal. O resultado é a redução acima de 10% no consumo de combustível.
A viabilidade do platooning foi testada pela ZF em vários projetos. A empresa defende que os comboios com caminhões de diferentes marcas tendem a se tornar cada vez mais frequentes no transporte rodoviário, inclusive na América do Norte, onde já se planeja avançar com o platooning. Em um outro projeto patrocinado pelo ministério de assuntos econômicos da Alemanha, a empresa trabalhou na implementação do conceito de comboio para veículos de segurança.