Movimentação de cargas gerada pelas empresas do ramo de produtos frigorificados, concentradas no Oeste Catarinense, tornou a região um dos maiores mercados de caminhões pesados do País e a consequente realização de evento para o setor de transporte 

Por João Geraldo

Carreteiro que roda o Brasil sabe que diferenças culturais e econômicas entre uma região e outra do território são características marcantes do País. Sabe também que podem ser mais distintas ainda quando se olha para regiões nas quais os municípios concentrados em uma mesma área com similaridades econômicas e sociais (conhecidas como mesorregiões), se destacam pela força da indústria que movimenta e caracteriza suas economias. Um bom exemplo está no Oeste Catarinense, onde os municípios de Concórdia, Joaçaba, São Miguel do Oeste, Xanxerê e Chapecó , que reúnem a indústria de  produtos frigorificados, setor de grande importância para movimentar  a atividade do transporte.   

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Indústria de produtos frigorificados na região do Oeste Catarinense tem potencial para movimentar grandes volumes de vendas de cavalos mecânicos pesados e carretas frogorificadas para atender a demanda de carga

Chapecó, conhecida como a capital da agroindústria,  tem 13% da frota de caminhões pesados do País e ganhou essa característica devido a presença de grandes empresas do setor de alimentos industrializados e de proteínas animal. Na região estão, por exemplo, o Grupo BRF (dono das marcas Sadia e Perdigão), Grupo JBS e Aurora entre outras. Por conta dessa indústria, que produz para o mercado interno e exportação, o transporte rodoviário de carga se beneficia com a aplicação de caminhões pesados e baús câmaras frigoríficas para a movimentação da produção.  

Do mesmo modo, a produção da região alavanca também a reboque negócios de empresas com produtos e serviços para o setor do transporte rodoviário de carga. “Osmar Carboni, diretor do Grupo Carboni (que reúne oito concessionárias de caminhões Iveco, sendo sete em Santa Catarina e uma no Rio Grande do Sul), reforça que a cidade Chapecó e região são responsáveis por grande número de vendas de caminhões pesados. “Cerca de 70% do movimento de cargas frigorificadas no Brasil está na região de Chapecó, destacou Ricardo Barion, diretor de marketing e vendas da Iveco na America Latina, ao comentar sobre a oportunidade de apresentar aos transportadores e carreteiros da região os diferenciais dos produtos da marca, com maior foco aos modelos da família Stralis.  

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Concessionário Osmar Carboni e Jesiel Tasso, da Iveco, entregam caminhão para Luiz Framento, que para atender embarcadores já programou novas compras para 2019

Para Carboni, é possível que mais da metade das vendas de caminhões pesados no Brasil em 2017 tenha sido na região, embora os emplacamentos ocorram em outras localidades. “Cerca de 70% das placas de carretas frigorificadas estão na região, onde o agronegócio tem forte influência na economia”, disse. COnforme acrescentou, entre 40 e 45% dos modelos pesados da marca são vendidos pelo grupo presidido por ele.

O empresário destacou ainda que depois de atravessar um período difícil de quatro anos, as vendas de caminhões pesados voltaram a acontecer, inclusive com fila de espera para a entrega do veículo. No caso do Iveco Stralis, o prazo chega a ser de até 90 dias. Apesar de o mercado estar comprador, Carboni afirma que as vendas do Grupo e a fidelidade dos clientes se devem também aos produtos da marca, que melhoraram muito nos últimos anos. 

IMG 3582Um dos clientes da concessionária é Luiz Framento, proprietário da transportadora que leva seu nome, cuja frota é de cerca de 700 caminhões, dos quais 240 são Iveco Stralis 440 6X2 para o transporte de frigorificados. A compra mais recente do transportador é um lote de 50 unidades para atender novos clientes, conforme disse, reforçando que os setores de grãos e de frigorificados estão puxando as vendas de modelo pesados na região. 

Em análise sobre o setor de transporte em 2018, tanto Osmar Carboni quanto Luiz Framento ressaltam que os negócios melhoraram depois da paralisação dos motoristas deflagrada dia 21 de maio passado. “Antes do movimento, os transportadores não tinham dinheiro para nada, ao ponto de parcelar a compra de pneus. A exploração era grande, principalmente sobre o autônomo. Mas todo o setor de transporte foi puxado, ganhou fôlego e hoje tem transportador renovando e ampliando frota”, comemorou Carboni 

Framento, cujo negócio principal é o transporte de produtos frigorificados, reforçou que 2018 está sendo bom, porém, acredita que 2019 será melhor ainda. Segundo ele, já tem embarcador lhe pedindo para aumentar sua frota, cuja idade média é de três anos, par atender a demanda. Framento conversou com a reportagem de O Carreteiro na concessionária Carboni, de Chapecó. Na ocasião ele recebeu 20 caminhões Stralis 440 de um lote de 50 unidades.  Otimista, afirmoue que já se programou para novas compras em 2019. Aliás ele disse todo ano faz a troca de 100 caminhões e só compra com financiamento pelo CDC. Justificou que fica mais caro, porém prefere ter a segurança de saber quanto vai pagar. Finame, na sua opinião, era melhor quando não havia a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).

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Ex-carreteiros, Cícero e Leandro Pegoraro, da DL Transportes, aproveitaram as oportunidades na região e cresceram na atividade atividade

Outra empresa da região que transporta frigorificados é a DL Transportes, sediada em Xanxerê. De propriedade dos irmãos Demerlúcio Cícero Pegoraro e Leandro Luiz Pegoraro, a empresa é especializada no transporte de contêineres câmara fria. A frota conta com 59 caminhões (boa parte Iveco Stralis 440) para atender embarcadores como Aurora, JBF, Friboi, BRF, Marfrig e outras conhecidas do setor, transporte de frutas e produtos industrializados refrigerados. Os veículos da DL carregam para todos os portos da região Sul do País e o de Santos/SP.

Inspirados pelo pai, ambos já foram autônomos e empregados até começarem com a transportadora própria em 2001.  “Nosso projeto não era crescer tanto, mas as oportunidades foram aparecendo e aproveitamos, pois não se pode “deixar um cavalo encilhado passar sem montá-lo”, disse Leandro, ao citar dito popular do Rio Grande do Sul segundo o qual um animal com sela não passa duas vezes na sua frente. Este ano, a DL comprou 19 caminhões pesados, sendo 15 Iveco, três Volvo e um Mercedes-Benz.

Do mesmo modo como havia garantido Luiz Framento, os irmãos Pegoraro também afirmam que dão treinamento aos motoristas da empresa. Leandro destacou que é normal situações de um ou outro não demonstrar simpatia à essa prática, mas  conforme é praxe logo percebem que é preciso estar a par das tecnologias existentes hoje nos caminhões. E faz questão de contratar somente profissionais de qualidade,  a maioria moradora da região. 

O transportador lembrou que o carreteiro precisa ser mais valorizado. Com uma forma de reconhecimento a DL  compra geladeira para quem deseja ter essa comodidade no caminhão e facilita o pagamento. “Também pagamos um bom salário, mas cobramos do profissional”, contou, citando como exemplo a média de consumo de 2,80 quilômetro/litro”, dos caminhões da empresa.

EXPECTATIVA DE UM NOVO PAÍS

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O peso do transporte de produtos frigorificados no Oeste Catarinense – cuja mesorregião é formada por cinco microrregiões com sede em Chapecó – foi o principal motivo que levou um grupo profissionais ligados ao transporte rodoviário de carga a criar uma feira local para o setor. Puxada pelo alto volume de cargas refrigeradas geradas na região, a Fetranslog (Feira de Transporte e Logística), realizada  entre os dias 17 e 19 de outubro, na cidade recebeu mais de 10 mil empresários e visitantes de 17 Estados.

Realizada pelo Sitran (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística de Chapecó), a feira surpreendeu ao gerar negócios perto de R$ 1 bilhão, pois as expectativas iniciais eram de movimentar R$ 140 milhões. Ivalberto Tozzo, coordenador geral do evento, disse que uma cooperativa de crédito superou R$ 32 milhões em análise de crédito e o volume de caminhões pedidos surpreenderam. 

A importância da feira na região é reforçada pelos números da mesorregião Oeste do Estado. São 6.134 empresas em atividade, que juntas representam 37% da potencialidade instalada no Estado. Tozzo apontou quatro principais fatores que considera terem influenciado no desempenho alcançado pelo evento: o potencial do transporte rodoviário na região, a capacidade empreendedora, a previsão de forte aquecimento do mercado e o clima de positividade e otimismo gerados pela confiança em “um novo País”.

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Evento aconteceu em região com frota superior a 40 mil caminhões e carretas e mais de 6 mil empresas em atividade

Toda carga gerada na região é movimentada pelo modal rodoviário posicionando o município como segundo maior polo de empreendimentos do transporte de carga do Estado. 

A frota da região supera 40 mil caminhões e carretas, conforme disse Deneraci Perin, presidente do Sitran.De acordo com ele, o Oeste Catarinense é uma força econômica que merecia ter um evento à sua altura. “A feira já nasceu grande, para ser a primeira do Sul do Brasil, a segunda do País e a maior da América Latina em implementos frigorificados. relacionou. Segundo os organizadores, mais de 100 expositores ocuparam 9.000m2 do Parque de Exposição da cidade. A próxima edição está prevista para acontecer em 2020.