Por Evilazio de Oliveira

A indústria de olarias no Rio Grande do Sul espera que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) anunciado pelo governo Lula deslanche para que a construção civil volte a crescer e, com isso, absorver a produção das 600 empresas do setor. Esse crescimento terá refl exos imediatos na frota de caminhões, próprios e terceirizados, que hoje faz a coleta da argila nas minas ou o transporte do produto final para o mercado consumidor.

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Para Juan Roberto Germano, o setor de olarias no Rio Grande do Sul utiliza cerca de 1.200 caminhões e tem expectativa de crescimento

As olarias pequenas trabalham com dois ou três caminhões próprios, utilizados de acordo com as necessidades. Somente as mais estruturadas separam com caminhões especiais as tarefas de coleta do barro e de entrega da mercadoria. Porém, os veículos quase sempre são terceirizados, conforme explica Juan Roberto Germano, dono da Pauluzzi – Blocos Cerâmicos Ltda., que opera no município de Sapucaia do Sul, na Grande Porto Alegre/RS. Ele é também o presidente do Sindicer (Sindicato da Indústria de Olaria e Cerâmica para Construção no Estado do Rio Grande do Sul), que congrega cerca de 300 empresas. O setor emprega aproximadamente cinco mil pessoas e utiliza um número estimado de 1.200 caminhões. O Sindicato está fazendo um mapeamento para saber, exatamente, o número de veículos utilizados, entre próprios e terceirizados.

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Elvo Agostini acredita que o desenvolvimento da construção civil e dos setores ligados à indústria de cerâmica afetarão também o transporte

Aos 49 anos, Roberto Germano faz parte da quarta geração de uma família de oleiros que se estabeleceu na região em 1928. É com base nessa experiência que ele aposta num rápido aquecimento do mercado da construção civil no Estado, fato que já acontece em São Paulo, onde a demanda continua em alta e as olarias não têm estoque. Acredita que apesar da produção gaúcha estar ainda reprimida, logo deverão surgir novos investimentos, principalmente no setor público, ainda neste segundo semestre do ano. A necessidade de mais caminhões será inevitável, afirma.

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Há 17 anos transportando para olaria, Neri Aristeu volta todos os dias para casa e não teme que alguém possa roubar uma carga de tijolos

Na empresa que dirige, por exemplo, ele tem um estoque de 15 mil toneladas de blocos cerâmicos e trabalha com cinco caminhões para entregas, dois próprios e três terceirizados. A coleta de argila também é terceirizada. Quando precisar escoar esse estoque serão necessários mais caminhões, o mesmo acontece com a maioria das olarias gaúchas. Mais serviço para os autônomos, prevêem os motoristas que trabalham na região.

Na opinião de Elvo Agostini, 41 anos, e 10 como assessor comercial da Pauluzzi, o setor de olaria – ou de cerâmica como ele prefere denominar – está em expansão, sobretudo pela alta capacidade produtiva das empresas. Acredita que o PAC dará um novo incremento no número de obras e, conseqüentemente, no desenvolvimento da construção civil e de todas as áreas que fazem parte dessa atividade. Entre elas, a indústria de olarias e o transporte rodoviário.

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Gilberto Luiz Pereira já trabalhou em polo petroquímico, mas garante que hoje está bem melhor, pois já comprou até um carro

Para o motorista Neri Aristeu de Jesus, 51 anos e 17 de volante trabalhando em olarias desde os 17, o serviço está muito bom. Ele faz entregas nas cidades da região metropolitana de Porto Alegre, com as rotas mais longas chegando a 130 quilômetros. Chega cedo em casa, a tempo de jantar com a família. O almoço é no refeitório da empresa. Trabalha de segunda a sexta-feira e tem um salário que considera razoável, sem correr riscos de viagens longas e de ser assaltado. “Quem vai querer roubar uma carga de tijolos”, pergunta, para logo depois complementar: “a não ser que queiram levar apenas o caminhão”.

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Para Darlan Moreira, que está há 20 anos na profissão e apenas dois no setor de tijolos, trata-se de uma carga que não tem nada de especial

Outro carreteiro, Gilberto Luís Pereira de Souza, 43 anos, 14 de profissão e quatro no transporte de tijolos, também está satisfeito, principalmente pelo fato de fazer viagens curtas e trabalhar perto de casa. Ele dirige um Ford Cargo equipado com guindaste Munck, como a maioria dos caminhões que fazem esse tipo de transporte, pelo menos nas empresas de maior porte, como explica. Antes desse emprego trabalhou no Pólo Petroquímico, de Triunfo/RS, mas garante que agora está bem melhor, “já deu até para comprar um automóvel”, comemora.

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Elvis Vasconcelos trabalha há oito anos com o caminhão de seu pai, faz viagens curtas e considera as estradas muito perigosas

Elvis Vasconcelos Santos, 27 anos e oito de boléia, está no transporte de tijolos há cinco. Trabalha com um Mercedes 1723 trucado de seu pai, Haroldo Silveira dos Santos, que está nesse setor há mais tempo. Ele é solteiro, ganha um salário que pode chegar aos R$ 1.300,00 com as comissões e – pelo menos por enquanto, não pensa em viagens longas. “As estradas são muito perigosas, existe muita violência “, pondera.

O carreteiro Adir Leão, 47 anos, 27 de estrada e há sete no tijolo, também concorda que, pelo menos em princípio, o serviço está muito bom. Ele já viajou com carreta para o centro do País, transportou concreto e agora dirige um Mercedes Axor 2006 levando blocos cerâmicos em rotas que chegam a 600 quilômetros entre ida e volta. Tem um salário médio de R$ 1.300,00 e a vantagem de voltar para casa todas as noites, para a companhia da mulher e filhos.

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Após ter rodado com carreta na região Centro-Oeste do País, Adir Leão transporta tijolo há sete anos e tem opinião de que a sua situação é boa

Os caminhões normalmente são carregados por empilhadeiras. Porém, para a descarga os motoristas devem manobrar o guindaste para baixar os pallets. Nada muito difícil, conforme opinião de Darlan Antônio Moreira, 40 anos e 20 de profissão. Ele está nessa atividade há dois anos e garante que transportar tijolos não tem nada de especial, apenas os cuidados de sempre ao dirigir. O único risco – afirma – é deixar cair um pallet ao descarregar e quebrar os tijolos. Nesse caso a empresa repõe, mas sempre fica chato para o motorista, pelo descuido. “Agora, o “brabo” é quando a carga e descarga é feita no braço, sem o guincho”, referindo-se às olarias de pequeno porte e com poucos recursos técnicos.