Por  Daniela Giopato

O resultado registrado no final de 2010, em relação ao desempenho do mercado de caminhões, afastou de vez as inseguranças e previsões negativas do primeiro semestre de 2009. Iniciativas do governo como redução do IPI, novas regras para o Procaminhoneiro, taxas atrativas do Finame PSI e o comportamento do País diante da tão comentada crise econômica mundial serviram como ponta pé inicial para a indústria se reerguer e superar, em pouco tempo, as previsões iniciais. Prova disso são os números apresentados pela Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – que mostram montadoras superando recordes históricos de vendas de caminhões no Brasil.

Para Antônio Dadalti, o desempenho do mercado de caminhões em 2011 deverá ser parecido com o do ano passado
Para Antônio Dadalti, o desempenho do mercado de caminhões em 2011 deverá ser parecido com o do ano passado

Entre janeiro e dezembro de 2010 foram comercializados 171.040 caminhões com PBT acima de 3,5 toneladas, 49,7% a mais que as 114.286 unidades vendidas no ano anterior. O segmento que mais cresceu foi o de pesados, 54.280 veículos vendidos, 71,8% superior aos 31.604 comercializados em 2009. A produção, por sua vez, atingiu a marca de 191.321, resultado 54,7% superior aos 123.633 fabricados no ano anterior e as exportações totalizaram 22.915 unidades, contra 13.504 em 2009, crescimento de 69,7%. Diante desses resultados, empresários do setor apostam em um 2011 igual ou superior a 2010 e acreditam que o mercado permanecerá aquecido.

Ricardo Alouche acredita que em 2011 possa existir uma antecipação de compras de caminhão, já que em 2012 entra em vigor a fase 7 do Conama
Ricardo Alouche acredita que em 2011 possa existir uma antecipação de compras de caminhão, já que em 2012 entra em vigor a fase 7 do Conama

Para o vice-presidente comercial e institucional da Iveco Latin America, Antonio Dadalti, a economia brasileira se mostrou madura diante da crise externa que afetou o crescimento brasileiro por pouco tempo. A indústria de veículos comerciais soube reagir, assim como os empresários do setor de transporte que prosseguiram nos investimentos que vinham fazendo antes do susto. “O início de 2010 já demonstrava que teríamos um ano muito bom. Depois do primeiro quadrimestre tivemos a certeza de que seria um ano histórico, e se confirmou”, relata. No ano passado foram comercializados cerca de 190 mil veículos comerciais acima de 2,8 toneladas de PBT retomando a trajetória já delineada em 2008, que era, até então, o melhor ano da história. “Pudemos observar também o transportador muito mais maduro, atento às novidades da indústria e de olhos mais abertos ainda nos quesitos consumo e produtividade”, acrescenta.

O Brasil está em um momento favorável e a visão a médio prazo é positiva, principalmente em relação ao mercado de pesados, opina Roberto Leoncini
O Brasil está em um momento favorável e a visão a médio prazo é positiva, principalmente em relação ao mercado de pesados, opina Roberto Leoncini

Para a montadora, 2010 também foi um ano histórico, com destaque para lançamentos como o Iveco Stralis NR, do Daily Massimo, do Iveco Vertis e do (COPI) Centro de Peças da Iveco em Sorocaba. “Conquistamos a quarta colocação no ranking dos fabricantes de caminhões do Brasil, com 7,8% de participação no mercado de veículos de carga acima de 2,8 toneladas de Peso Bruto Total (PBT), de acordo com números do Denatran”, destaca Dadalti. No total, a Iveco fechou 2010 com 15.404 unidades emplacadas, número 57% superior ao ano anterior, alcançando seu melhor resultado no País. “O volume de vendas foi quase cinco vezes maior do que o registrado em 2006”, completa.

Roger Alm estima que em 2011 deverá haver crescimento em torno de 5% nas vendas de caminhões
Roger Alm estima que em 2011 deverá haver crescimento em torno de 5% nas vendas de caminhões

Para Dadalti, o mercado de caminhões em 2011 deverá ser parecido e tão forte quanto ao volume alcançado em 2010. A Iveco, por sua vez, estima vender aproximadamente 20 mil unidades – considerando o mercado acima de 2,8 toneladas de PBT – e chegar a 10% de participação do mercado total de caminhões. A montadora pretende também investir no segmento de veículos comerciais entre 2,8 e 3,5 toneladas, segmento que responde por 20% do mercado total de caminhões, apesar de não ser considerado pelas estatísticas da Anfavea na categoria de caminhões. Outra previsão está relacionada à expansão da rede de concessionários. “No primeiro semestre desse ano ultrapassaremos a marca de 100 concessionários no País e teremos 130 até o final de 2012”, conclui.

As iniciativas do governo foram essenciais para o mercado de caminhões superar as dificuldades enfrentadas em 2009, destaca Oswaldo Jardim
As iniciativas do governo foram essenciais para o mercado de caminhões superar as dificuldades enfrentadas em 2009, destaca Oswaldo Jardim

O diretor de vendas, marketing e pós-vendas da MAN Latin America, Ricardo Alouche, afirma que em 2010 a empresa bateu todos os recordes de produção e vendas. “Completamos oito anos de liderança no mercado de caminhões e pelo 3º ano consecutivo o Volkswagen 24.250 foi o mais vendido no Brasil”, declara. Alouche acredita que iniciativas do governo, como a redução do IPI e as taxas atrativas do Finame PSI para caminhões e ônibus, deram um novo “gás” ao mercado, e os clientes puderam investir mais nos negócios e, consequentemente, acelerar toda economia que se relaciona com o transporte de carga. A expectativa para 2011, conforme explica, é que o mercado continue aquecido com o detalhe de que o ideal seria a permanência do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para caminhões, já que se trata de um bem de produção, além do programa Procaminhoneiro.

Na avaliação de Euclydes Ghedin, haverá crescimento das vendas no final deste ano e esvaziamento no início de 2012 por conta do EuroV
Na avaliação de Euclydes Ghedin, haverá crescimento das vendas no final deste ano e esvaziamento no início de 2012 por conta do EuroV

Para ele, o volume de vendas deverá ser no mínimo igual ao volume de 2010. “Acreditamos que em 2011 haja antecipação de compras de caminhão, já que em 2012 iniciaremos no Brasil uma nova fase de atendimento à legislação de emissões de gases, a Conama fase 7, no qual os veículos serão equipados com motores Euro V”, finaliza.

O diretor geral da Scania, Roberto Leoncini, conta que diante de tantas incertezas, em 2009, a Scania decidiu acertadamente adotar a estratégia de renovar toda sua linha de produtos, trazendo para serem fabricados no Brasil os mesmos caminhões que tinham acabado de ser lançados na Europa. Ele avalia que a ação demonstrou a seriedade e a confiança que a empresa tem no Brasil e na força do seu mercado interno.

“Assim, começamos 2010 em situação privilegiada, contando com a confiança dos clientes diante do que oferecíamos como solução completa de transporte”, explica.

Em 2010, a Scania ultrapassou a marca de 15 mil caminhões vendidos e foi considerado como seu melhor ano da história em todos os mais de 100 mercados em que atua no mundo. “Em termos gerais foi o melhor ano para o mercado nacional de caminhões pesados e para a Scania o crescimento de 85% sobre nosso melhor resultado, que foi em 2009, mesmo com os efeitos da crise no Brasil”, afirma. Ele acrescenta que iniciativas do governo tiveram impacto positivo para os negócios de caminhões da Scania, pois aproximadamente 22%, das vendas a prazo vieram do Procaminhoneiro. “Se somado ao Finame PSI, a participação destas linhas de crédito foi de 92% do que vendemos com financiamentos”, acrescenta.

Quanto às previsões para 2011, Leoncini acredita que o Brasil está em um momento bastante favorável e a visão a médio prazo é positiva, sustentada pelas obras de infraestrutura em andamento ou planejadas, e importantes eventos como a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. “O mercado nacional de caminhões pesados seguirá forte, pois é parte fundamental nessa equação. Estamos em um patamar de crescimento muito expressivo, saindo de 20 mil unidades em 2005 para 30 mil em 2007, 40 mil em 2008 e, um ano após a crise, 50 mil em 2010”, explica.

O presidente da Volvo do Brasil, Roger Alm, comemora o excelente 2010 vivido pela montadora, período em que foram comercializados 18,3 mil caminhões pesados e semipesados, sendo, desse total, 16,2 mil somente no Brasil. Outros mercados sulamericanos consumiram pouco mais de duas mil unidades. “Foi um recorde histórico de vendas de caminhões, desde que a Volvo se instalou no País, no final dos anos 70.

O principal fator por este ano bastante positivo foi a forte atividade econômica no Brasil em diferentes setores, como, por exemplo, a construção civil. Também contribuíram decisivamente a grande oferta de crédito, a isenção do IPI e o Finame PSI”, afirma. Na modalidade Procaminhoneiro, a Volvo comercializou 1.500 caminhões. Apesar de ainda ser cedo para fazer estimativas, Alm acredita que 2011 será um bom ano e a expectativa é de crescimento nas vendas em torno de 5%, dada a base anterior. “O que poderia puxar essa elevação, além da atividade econômica, seria uma possível pré-compra, em função do início da nova legislação de emissões Euro V, marcada para 1º de janeiro de 2012”, estima. Além disso, a Volvo prevê a expansão das operações na América do Sul, através de ações como investimento de R$ 25 milhões para a fabricação, no Brasil, da caixa de câmbio eletrônica I-Shift e do motor de 11 litros, ambos importados atualmente da Suécia.

O presidente da Volvo anunciou também investimento de R$ 50 milhões em um novo centro de logística de peças de reposição, que será construído dentro do complexo industrial da empresa, localizado no bairro Cidade Industrial de Curitiba, com previsão de entrega para 2012. “O Brasil sempre foi um mercado muito importante para o Grupo Volvo, que vem constantemente investindo desde a instalação da empresa no País, e apresenta o maior volume de vendas nos últimos dois anos. O Brasil é a base para nossas operações em toda a América Latina”, destacou.

Roger Alm explica que a caixa I-Shift tem boa aceitação no Brasil e demais países da América do Sul, de modo que atualmente equipa 60% dos caminhões da linha “F” produzidos. A montagem de caixas eletrônicas será feita nas instalações de Powertrain, dentro do complexo industrial da Volvo, em Curitiba/PR, onde a companhia produz caminhões pesados e semipesados, chassis de ônibus, motores a diesel e cabines. Já o novo centro terá 28,2 mil metros quadrados, sendo 22 mil somente para áreas de armazenagem e tem como meta principal otimizar a gestão da cadeia logística.

A nova estrutura logística local, segundo a empresa, contribuirá para a implantação de um sistema global de gerenciamento da cadeia de suprimentos da Volvo, chamado Supply Chain Management, que irá interligar os centros logísticos centrais da corporação espalhados por diferentes continentes.

A Ford Caminhões também acompanhou de perto o crescimento da indústria de caminhões em 2010 e atingiu recorde histórico de emplacamentos, com 27.672 unidades, aumento de 40% sobre 2009. “Esse desempenho foi positivo, na medida em que ampliamos nossa participação de mercado por mais um ano consecutivo, para 23,9% (aumento de 0,4 pontos percentuais com relação a 2009) dentro da indústria de caminhões, o que exclui o segmento de extrapesados, no qual não atuamos”, declarou Oswaldo Jardim, diretor de operações da Ford Caminhões para a América do Sul.

Na opinião de Jardim, as iniciativas do governo foram essenciais para o mercado de caminhões superar as dificuldades enfrentadas durante o 2009. No caso da Ford, conforme explica, um dos mais importantes programas de fomento foi o Mais Alimentos (produtos até 100 mil, juros de 2% a.a, carência de três anos e prazo de 10 anos para quitação da dívida), no qual, conforme o executivo, a empresa teve uma boa participação com caminhões leves Série F e linha Cargo 712 e e815. Para 2011, a estimativa é de crescimento do mercado com vendas entre 160.000 a 170.000.

Para o gerente de vendas de caminhões Mercedes-Benz do Brasil, Euclydes Ghedin Coelho, o mercado de caminhões teve desempenho excepcional em 2010, com a produção de 162 mil veículos e 150.323 emplacados, dos quais 39.625 foram da marca, contra 29.386 unidades emplacadas em 2009. “Considerando que tivemos anos em que o mercado total de caminhões produzidos chegava a 60 mil unidades, os números alcançados em 2010 são quase que três vezes os de períodos anteriores”, destaca.

A produção e vendas de caminhões, conforme explica, é resultado do crescimento de todos os setores da economia e do transporte, como o da construção pesada, mineração e distribuidores logísticos, com grande repercussão em todas as regiões do País. “Hoje as grandes fábricas estão em várias regiões, é preciso levar matérias primas para todos os lugares e para isso é necessária a aplicação de caminhões, com destaque para os extrapesados. Neste ponto a Mercedes-Benz acertou trazendo para o Brasil o Actros, primeiro para a mineração e depois a versão rodoviária”diz o executivo.

Em relação a 2011, Euclydes Ghedin Coelho acredita que todos apostam em um ano muito parecido com 2010. “Deverá haver um aumento nas vendas no final deste ano por parte de clientes que vão antecipar a compra de caminhões devido a legislação de emissões Conama P7, que entrará em vigor a partir de 1º de janeiro de 2012”. A previsão se baseia no fato de ser quase certo um aumento de preço dos produtos por conta da tecnologia do motor Euro V. Porém, acrescenta Ghedin Coelho, deverá haver um esvaziamento de compras no início de 2012, porque os caminhões produzidos em 2011 poderão ser vendidos até o mês de março.