Por João Geraldo Fotos Kjell Olausson

Os desafios na estrada também fazem parte da rotina dos motoristas profissionais que dirigem caminhões pelas rodovias mais modernas do mundo. As mais importantes diferenças entre um carreteiro que dirige nas estradas brasileiras e outro que faz o mesmo trabalho nas rodovias da Suécia podem ser resumidas em poucas comparações. Lá as estradas são melhores e mais seguras, a frota não é tão velha (portanto polui menos e é mais eficiente), a preocupação em cumprir a legislação estabelecida é maior, os horários de direção e descanso são respeitados e a questão da segurança na estrada é prioridade. O frio que castiga o profissional durante o Inverno também é incomparável. No mais, a atividade e os profissionais têm muitas coisas em comum.
Até mesmo a opção de dirigir caminhão por ser uma tradição da família existe por lá, caso de Johnny Nilsson, um carreteiro de 34 anos de idade que está na profissão há 13 anos. Garante que é de uma família de motoristas de caminhão e não considera a profissão complicada, a não ser quando chega próximo a Estocolmo (Capital da Suécia) e tem de enfrentar o trânsito pesado. Diz que não recebe incentivo algum da empresa para a qual transporta, por isso trafega em velocidade de oito quilômetros abaixo da indicada pela transportadora e com isso economiza meio litro de diesel a cada 10 quilômetros rodados. Seu tempo de viagem aumenta em 20 minutos, mas garante que esta prática lhe traz vantagens.
Está satisfeito com seu salário, em torno de 25 mil koroas líquidas por mês (pouco mais de  seis mil reais) e diz que não convive com outros motoristas fora do trabalho, pois seus amigos exercem outras atividades profissionais. E quando os carreteiros se reúnem a conversa é geralmente sobre caminhões. “Quando vou para casa, após o expediente, eu esqueço a estrada, o caminhão, o trabalho, enfim”, garante.
Explica que carrega tudo no seu caminhão, mas sua especialidade é o transporte de verduras, entre as cidade de Helsingborg e Estocolmo, trecho de 560 quilômetros de extensão que ele tem de percorrer em sete horas. Ele vai num dia e volta no outro pernoitando no próprio caminhão e garante que se não tiver carga na volta ele viaja vazio. Passa uma noite em sua casa e outra fora e tem uma folga a cada quatro semana. “Tenho um dos melhores empregos da Suécia, principalmente porque trabalho em uma empresa séria”, comemora.
O ex-mestre de obra, Sven-ove Björklund, está há seis anos na estrada e começou na profissão por escolha própria, pois garante que sempre trabalhou por conta. “Decidi tirar a carteira de habilitação e ser profissional”, relata. Seu caminhão é um Scania V8 com motor de 500cv de potência e configuração de eixo 8X2 (chassi rígido com terceiro eixo mais o segundo eixo direcional) mais um semirreboque prancha com três eixos para o transporte de equipamentos de obras, a qual pode alternar a largura entre 2,60m e 3,30m, conforme a necessidade. Todo o conjunto, no valor de 3,2 milhões de koroas, foi adquirido OK e financiado em seis anos. Seu faturamento anual, conforme diz, gira entre três e quatro milhões de koroas (750 mil e um milhão de reais) e sua rota é por rodovias entre Estocolmo e a costa Oeste do país. Diz que o motor V8 proporciona mais economia em operações de longa distância, e também que não abre mão do contrato de manutenção oferecido pela marca, porque não pode deixar de cumprir seus prazos para entregar a carga.
Mulher ao volante de caminhão também não é novidade na Suécia e não existe preconceito algum na estrada, pelo menos é o que garante Maja Hamelius, uma jovem de 24 anos que está quase dois anos na profissão.  Ela é uma das três mulheres que formam o grupo de 70 motoristas de caminhão da empresa de Correios da Suécia (Postakariet), roda 200 quilômetros todos os dias e diz que ninguém a prejudica na estrada, “pelo contrário, procuram até ajudar”, garante.
Maja explica que é costureira, tem cursos técnicos na área, e começou a dirigir caminhão para experimentar algo novo e acabou gostando. Confessa que o grande desafio para ela é dirigir uma composição com 60 toneladas de PBTC e 25 metros de comprimento durante o Inverno, porque muda muito as condições das rodovias. Tem opinião de que os motoristas de automóveis de passeio não sabem bem o espaço que um caminhão precisa para rodar com segurança.
Atualmente, ela recebe mensalmente 22 mil koroas (cerca de 5.500 reais), mas antes de começar a dirigir ela fez curso de um ano no Correio. Dirige das seis horas da manhã até às 15horas, não tem rota pré-definida, mas só roda dentro do país. Sente orgulho de nunca ter sido parada na estrada, mas adverte que quem quebra a lei da carga horária na Suécia pode ser multado em 3.000 koroas.

 FRIO E NEVE NA ESTRADA

Como os demais países da Escandinávia, a Suécia sofre com baixas temperaturas durante o Inverno e a pouca claridade, pois o dia pode clarear apenas depois das oito da manhã e escurecer por volta das 15hs. Isso faz com que os veículos precisem de um sistema de iluminação mais eficiente, o que justifica, por motivo de segurança, a instalação de faróis no teto do caminhão. Outro fenômeno que gera particularidades no país é a neve que cobre as estradas e torna as pistas escorregadias e exige muito mais atenção dos motoristas. Outra característica comum são as composições formadas por um caminhão com chassi rígido com um semirreboque julieta atrelado. Bitrem, rodotrem e baú de dois ou três eixos são praticamente desconhecidos pelos carreteiros locais. (JG)
O jornalista João Geraldo viajou à Suécia a convite da Scania do Brasil