Por  Wilgen Arone

Cada vez mais grave no Brasil entre motoristas de caminhão, o consumo de álcool e de drogas ao volante é um problema existente também nas rodovias da Europa. Relatório do Conselho Europeu de Segurança nos Transportes (ETSC) aponta que os veículos de transportes foram responsáveis por 29% de todas as mortes ocorridas na estradas do continente em 2011.

Embora o uso de álcool e drogas ao volante seja p roibido, devido ao perigo iminente de provocar um acidente, muitos condutores persistem no erro. “Sei que isso, infelizmente é normal na nossa profissão. Um carreteiro foi pego com 2,0 g/l de álcool no sangue em Leverkusen. Após duas horas, já terminado o congestionamento, o condutor estava parado no mesmo local e dormindo”, conta o motorista Siegfried Fischer.

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O motorista Siegfried Fischer lembra do caso de um carreteiro pego após ter bebido

Para reduzir os casos de condução sob o efeito do álcool, Antonio Avenoso, presidente do Conselho Europeu de Segurança nos Transportes (ETSC) quer a instalação de travas de álcool em veículos profissionais. “O condutor tem de soprar em um bafômetro antes de ligar o motor. Vários países na Europa estão usando travas de álcool e elas provaram ser eficazes”, explica.

O estudo “Dirigir sob Influência de Drogas, Álcool e Medicamentos” (DRUID), realizado na União Europeia, mostra a ligação entre o uso de drogas e um risco maior de colisão e morte nas estradas. Foram observados, no total, 50 mil motoristas tanto de caminhão quanto de outros veículos e a pesquisa apontou que 3,48% dos condutores estavam sob influência do álcool, seguidos por drogas ilegais (1,90%), medicamentos (1,36%), combinações de drogas, (0,39 %) e combinações de álcool e drogas (0,37%).

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A ameaça não só acontece durante a fase de intoxicação aguda, mas várias horas após o consumo de droga o risco também é grande, diz o Dr. Don DeVol

Estimativas mostram que entre as substâncias ilegais, o maior risco é representado pelo consumo de drogas junto ao álcool. A ameaça de provocar acidente com vítimas graves é de 28,82%, e de 31,52% com vítimas fatais. A influência de várias drogas eleva em 8,01% as chances de o motorista provocar acidentes graves e em 18,51% as chances de acidentes com mortes.

No entanto, a utilização mista dessas substâncias desempenha apenas um papel menor por trás do consumo de álcool. A estimativa de provocar acidentes com vítimas graves é de 3,64 %, com mortes é de 43,93 %. Já o risco para anfetamina é de 8,35% para acidentes graves e de 24,09% para mortes. A ameaça de acidentes graves para consumidores de cocaína é de 3,30 % o número de mortes é 22,34%. Os cálculos para maconha são de 1,38% para acidentes e 1,33% para mortes. O perigo para medicamentos com substâncias (novos remédios para dormir) é de 1,99% para acidentes e 5,40% para mortes.

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Motoristas que acham que drogas não vão comprometer seus reflexos, já estão com o cérebro atrofiado, critica o carreteiro aposentado Helmut Frank

Drogas no trânsito limitam drasticamente a direção e também influência da tomada de decisões. Um nanograma de maconha corresponde à bilionésima parte de um grama. Isso não é quase nada, mas dois nanogramas de maconha por mililitro no sangue já são suficientes para aumentar o risco de acidentes no trânsito de forma significativa. O chefe do Instituto Alemão de Segurança nas Estradas Dr. Don DeVol adverte para o risco de provocar um acidente. “A ameaça não só acontece durante a fase de intoxicação aguda, mas várias horas após o consumo de droga o risco também é grande”.

Infelizmente existem motoristas que ignoram esses resultados e continuam usando a drogas. “Não há aumento do risco de acidentes por consumir maconha. Pelo contrário, o risco é reduzido, pelo aumento de atenção. Dirijo há mais de 40 anos, sob o efeito da maconha e nunca provoquei nenhum acidente. A maconha é medicinal e tem apenas bons efeitos”, conta o carreteiro alemão apenas identificado como JürgenMe, em um fórum sobre drogas na página da www.drugcom.de.

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Antonio Avenoso, do Conselho Europeu de Segurança nos Transportes, quer a instalação de travas de álcool em veículos de carga, como em vários países da Europa

Outros colegas de profissão têm uma opinião diferente sobre o assunto. “Quem bebe ou usa drogas não deve dirigir. Se um acidente com vítimas graves ou fatais acontece por consequência do uso de drogas, não dá para voltar a traz. Motoristas que usam algum tipo de droga e ainda acham que essas substâncias não vão comprometer seus reflexos, já estão com o cérebro atrofiado de tanto usar drogas”, critica o carreteiro aposentado Helmut Frank.

Nos países da União Europeia, dirigir sob a influência de drogas e acima da tolerância do álcool, que varia de um país para outro, leva à perda da carteira de habilitação. Quanto aos períodos de abstinência, no caso do álcool, varia de um país para outro. Na maioria dos casos ela depende da quantidade de álcool encontrada no sangue. Nos casos de consumo de droga, o prazo também muda de um país para outro: períodos de até seis meses, entre seis e 12 meses e períodos entre 12 e 24 meses e até acima.

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A sobriedade ao volante é inquestionável, e a imposição de limites deve ser aplicada aos condutores profissionais, diz Frank Tempel

O DRUID chegou a conclusão de que para os grupos de risco, como o de motoristas de caminhão, deve ser adotada a tolerância zero, devido a especificidade desses profissionais. A introdução de limites de máximo de 0,2 g/l foi recomendada pela Comissão Europeia. O parlamentar de esquerda (Die Linke) Frank Tempel, diz que a sobriedade ao volante é inquestionável. “Os carreteiros são um perigo potencial para todos os envolvidos no trânsito. A sobriedade e a imposição de limites devem ser aplicadas aos condutores profissionais.”

Ao contrário do álcool, não há limites estabelecidos por lei para o consumo de drogas ilícitas que defina que a condução possa ser feita de maneira segura. Nesse caso, todas as pessoas nas quais forem encontradas drogas no sangue perdem, ao menos temporariamente, a carteira de motorista. A posse de drogas, mesmo em pequenas quantidades, pode causar essa punição, já que o regulamento de condução estabelece que os usuários de droga não estão aptos a dirigir.