Por Daniela Giopato

Considerada péssima pela a maioria dos transportadores, a condição das estradas federais encabeça a lista de reclamações dos motoristas de caminhão, os quais convivem com altos custos de manutenção, por conta dos buracos, falta de acostamento e sinalização, além de gastarem maior tempo nas viagens e conviverem com a insegurança. A informação do Ministério dos Transportes de que dos 72 mil quilômetros que formam a malha rodoviária federal apenas 28% são considerados bom, 31% regulares e 41% ruins são mais do que suficientes para endossar as queixas dos transportadores.

Os carreteiros, principais usuários das estradas, são os mais afetados e também os que correm os maiores riscos por causa do abandono das rodovias. Eferson Pereira Ramos, 26 anos, oito no trecho, por exemplo, que percorre do Sul até Uberlândia, Rio de Janeiro e São Paulo afirma que, em geral, as estradas estão praticamente intransitáveis. “No Norte do Paraná, depois de Ponta Grossa, a situação piora um pouco. Há muito buraco e trepidação, não tem acostamento e nem sinalização. Já tive vários problemas com pneus e molas. Perdi meio dia para consertar e seguir viagem”, lembra. Além das quebras, Pereira afirma que atrasa a entrega, porque anda muito devagar. “Por isso sou a favor do pedágio, porque apesar de ser caro as estradas ficam bem melhores”, conclui.

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Eferson Pereira afirma que em geral as estradas estão intransitáveis o que resulta em quebra e atraso das entregas

Com 17 anos de estrada, Adriano Barras está acostumado a percorrer mais de 2.900 km, já que faz o trecho entre a fronteira da Argentina e São Paulo. “As estradas da Argentina estão em ótimo estado e o pedágio é muito barato. Mas, basta entrar no Brasil que o caminhão começa a balançar. As rodovias de Florianópolis, Barra Velha, Criciúma, por exemplo, estão intransitáveis”, explica.

Rubem Person, 39 anos de idade e 16 de estrada, faz o trecho São Paulo/Uruguaiana – às vezes o Nordeste – denuncia que do total de quilômetros que percorre nas rodovias, 80% estão em estado terminal. “O maior problema das estradas do Sul, na minha opinião, é a falta de acostamento. Já no Nordeste é impossível citar apenas um problema pois quase todas estão impossíveis de trafegar. Em um percurso que faria em cinco horas, no máximo, de uns tempos para cá sou obrigado a fazer em sete ou nove horas”, lamenta.

O carreteiro acredita que o pedágio seja uma boa solução para a melhoria das estradas, porém lembra que o valor deveria ser mais razoável, afinal a categoria já tem despesas demais com o diesel, e o valor do frete está cada dia mais baixo. “A Dutra, por exemplo, tem pedágio e a rodovia está boa”, conclui.

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Para Marcelo Alexandro imprevistos como problema com amortecedor e roda atrasa a entrega e impede o carreteiro de faturar mais

O chileno Marcelo Alexandro, 17 anos de profissão, percorre cerca de 3.800 km entre o Chile e São Paulo, percurso que faz em três dias, mas garante que faria em bem menos tempo se não fosse o problema das rodovias. “Na entrada do Chile, as estradas são praticamente todas novas e na Argentina estão bem conservadas. Quando chega no Brasil a coisa complica. Por conta disso e de alguns imprevistos, como problema com amortecedor e roda entre outras coisas, atrasamos a carga e isso acaba nos prejudicando, pois se cumpríssemos o horário poderíamos faturar mais”, diz.

Juliano Lopes, de Augusto Pestana/RS, 19 anos de idade, faz o trecho São Paulo/Uruguaiana num percurso de cerca de 2.000km. “O mau estado de conservação das rodovias do Brasil prejudica muito os carreteiros, pois muitas vezes temos que dirigir devagar, mudar a rota, ou até mesmo perder tempo com manutenção e isso atrasa as entregas”, registra. Ele conta que certa ocasião teve os pneus cortados, e perdeu o bônus por não entregar no horário. “Não me conformo com o fato do Brasil ser um País tão evoluído e ter uma malha viária tão malcuidada”, conclui.

Viajo sempre para Manaus e Fortaleza, cerca de 800 a 900 km por dia, e posso afirmar que a BR 116, entre Além Paraíba/MG e Governador Valadares/MG, está intransitável, sem sinalização e muito menos acostamento. Passar por ali significa danificar o caminhão. Por isso que digo sempre que, na prática, trabalho para pagar o diesel e fazer a manutenção quase que diária do caminhão”, contou Alison Gilberto Dias, de Curitiba/PR, 25 anos de idade e 10 de profissão. Ele acrescentou que há poucos dias tinha quebrado um eixo do caminhão em viagem entre Manaus e São Paulo. “ A viagem atrasou e fui obrigado a passar o final de semana inteiro parado e vazio”, lamentou. Para Alison, o pedágio é uma boa solução. “Apesar de pagarmos um pouco caro temos estrada com infra-estrutura para nos atender. A única coisa que não acho muito legal são as praças a cada 50 km”, reclama.

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Por conta dos buracos nas estradas, Juliano Lopes teve os pneus cortados e perdeu o bônus pois não entregou a carga no horário

José da Rosa, de Caxias do Sul/RS, 28 anos de idade e três anos e meio de profissão, viaja do Sul para Goiânia em trecho de cerca de 2.000 km e desabafa que já viveu várias situações perigosas por causa do péssimo estado das rodovias. “Há um mês, viajava pela BR 153, em Goiânia, e cair em um buraco. Estourei dois pneus e tive um prejuízo de R$ 2 mil, custo que não estava previsto em meu orçamento. Sou autônomo, então imagina o quanto este imprevisto me prejudicou. O frete já não dá para quase nada e ainda acontecem essas coisas”, analisa. Quando questionado a respeito do pedágio, José é curto e grosso. “Não sou a favor, pois pagamos muito imposto e com esse dinheiro já era possível manter as estradas conservadas. O pedágio é só mais um fonte de dinheiro para os políticos e empresários do nosso País”, esbraveja.

Diferente de seus colegas, Arceu Luis Nordi, Camburiu/SC, 48 anos de idade e 27 de estrada, faz a rota Argentina, Chile e Peru, e percorre quase 14. 000 km, porém, por estradas que, de acordo com a sua avaliação, são ótimas. “Viajar para esses lugares é maravilhoso, as rodovias não cansam pois são perfeitas – com exceção das Cordilheiras – e o pedágio é barato. Agora, no Brasil, é uma vergonha. Cada vez que viajo pelas estradas brasileiras me surpreendo. Um amigo e a sua família morreram quando transportavam de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro. O local não tinha acostamento e na tentativa de voltar para a pista bateu forte em um bambual. Ele estava com a mulher e o filho de seis meses. Alguém tem que fazer alguma coisa!”, pede.

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José da Rosa afirma ter vivido várias situações perigosas por causa do péssimo estado das rodovias

Através de sua assessoria, o Ministério dos Transportes informou que o orçamento do órgão para este ano é de R$ 4,2 bilhões e desse total cerca de 70% são para investimentos em rodovias como adequação, manutenção, duplicação, construção e sinalização. Ainda segundo a assessoria, nos próximos anos o governo federal vai investir ainda mais no setor de infra-estrutura de transportes. Uma negociação com o FMI (Fundo Monetário Internacional ) garantiu a liberação de R$ 6 bilhões ao longo de três anos (2005, 2006 e 2007) dos recursos da Contribuição sobre Intervenção do Domínio Econômico – Cide – que estavam retidos para cálculo de superávit primário.

Além disso, existem oito lotes de rodovias federais em estudo para concessão à iniciativa privada, nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Espírito Santo . O Ministério pretende publicar o edital de licitação para a concessão dos trechos ainda este ano. Porém, a assinatura dos contratos deve ocorrer somente em 2006.

Pesquisa rodoviária

A Pesquisa Rodoviária, realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), que avaliou 82 mil quilômetros rodoviários de todo o Brasil sob os aspectos pavimento, sinalização e geometria da via, revelou que dos 20 melhores trechos rodoviários do País, 19 estão em São Paulo e, destes, 15 são do Programa de Concessões Rodoviárias do Estado. Os cinco melhores trechos rodoviários são as rodovias Washington Luís (SP-310), Castello Branco (SP-280), Bandeirantes (SP-348), Prefeito José André Lima (SP-340) e rodovia Anhanguera (SP-330). Em relação às rodovias do sistema nacional, 72% apresentam algum grau de imperfeição e apenas 11% estão em ótimas condições.