Importante rodovia do Estado, a RS-324, que liga o município de Bento Gonçalves a Passo Fundo, é mais conhecida pelos motoristas como Estrada das Mortes devido ao descaso principalmente entre as cidades de Casca e Passo Fundo, onde se encontra o pior trecho. Muito utilizada para o transporte de cargas no Norte do Estado, é também caminho para muitos automóveis de passeio, que diariamente necessitam dela para se locomoverem entre as cidades que a cerceia.

Construída em 1973, é a rodovia mais antiga do Rio Grande do Sul, por isso possui grandes problemas quanto a sua engenharia. Trânsito lento, caminhões em grande quantidade, mais a falta de condições da pista de rolamento – que possui trechos onde a camada de asfalto é praticamente inexistente – acabam por ocasionar uma série de acidentes que matam constantemente. Para quem usa a RS-324 com freqüência, tanto o medo de transitar por ela quanto as reivindicações são comuns.

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É uma estrada cheia de curva e muito cansativa. O motorista precisa se preparar e ter paciência para dirigir nela, aconselha o tenente Paulo Roberto, da Brigada Militar

No trecho de 29 quilômetros que liga Marau a Passo Fundo, existem 32 curvas, e a maioria delas bem ‘fechadas’ e grudadas uma na outra. Além disso, a faixa de asfalto é estreita e sem acostamento. Os buracos são enormes e surgem a todo momento na frente do motorista. Em alguns pontos, o peso dos caminhões já chegou a rebaixar o asfalto, formando “degraus” na pista. À noite, para quem não conhece a estrada, o perigo é ainda maior, pois não há sinalização alguma, e a ultrapassagem é praticamente impossível, além de muito perigosa.

Com um fluxo diário de aproximadamente 6,5 mil veículos – no trecho Marau e Passo Fundo – os motoristas acabam estressados com a lentidão e a falta de estrutura para fazer ultrapassagens, o que acaba ocasionando os acidentes por conduta indevida daqueles que se arriscam a fazer manobras em locais indevidos. O Tenente Paulo Roberto Mariano de Souza, que atua na Brigada Militar há 16 anos, mostra a realidade da RS, “os acidentes acontecem geralmente das 15h às 21h, horários caracterizados pelo cansaço e estresse dos condutores. A nossa RS tem muitas curvas, é uma estrada cansativa e com isso o motorista precisa se preparar e ter paciência para dirigir nela. Apenas com prudência poderemos diminuir os números que mostram que, 90% dos acidentes é devido a imprudência dos condutores”, opina.

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Orlando Marckmann relata que a RS-324 está mal conservada e precisando de uma reforma geral. Acrescenta que o pior são as curvas e que tem medo de trafegar por ela

Só no primeiro semestre de 2008, a RS-324 foi palco de 86 acidentes no trecho de 29km entre Passo Fundo e Marau. Do total, 81 ocorrências foram causadas por ultrapassagens indevidas. A quantidade de caminhões que passa diariamente no trecho é significativa, os carreteiros têm muito medo e reclamam da má conservação da rodovia.

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Para Alceu Matielo que chegou a usar a rodovia diariamente, o atual estado de conservação é o pior que ele já viu e sugere a duplicação para aumentar a segurança

Israel Francisco da Silva, 32 anos, é paraibano e há quatro passa cerca de três vezes por mês pela rodovia. “As condições são péssimas, muitos buracos, não há acostamento, as curvas são perigosas e falta sinalização. A 324 está precisando de um planejamento que reduza a quantidade de curvas e também de uma duplicação, porque assim dá medo trafegar por ela. É muito perigosa”, declara Israel. Ele acrescenta que já presenciou muitos acidentes com mortes na rodovia.

Orlando Marckmann, 59, é da cidade gaúcha de Lajeado e tem a experiência de 35 anos na estrada. “Essa rodovia está muito ruim. É mal conservada, mas o pior ainda são as curvas. Eu passo por ela com medo, acho que precisa de uma reforma geral com urgência”, sugere o carreteiro.

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Usuário da rodovia e conhecedor de estradas, Carlos Otávio diz que tem medo de trafegar pela RS-324, porque a considera perigosa

Os motoristas de caminhão da região que não têm como evitar a Estrada das Mortes contam que ela nunca esteve tão ruim como nos últimos anos. “Cheguei a passar por aqui seis vezes por semana, mas ruim como agora ela nunca esteve. Está impossível de trafegar, são muitos buracos e curvas, além de haver pouca sinalização e inexistência de acostamento”, salienta Alceu Matielo, 56 anos e 25 na profissão. Outro carreteiro que também vê restrições em trafegar pela RS-324 é Carlos Otavio Alcântara, 38 anos de idade. Para ele, que utiliza a rodovia, a solução é a duplicação. “Estou na estrada desde os 18 anos de idade, mas desta aqui eu tenho medo”, revela.

O projeto de duplicação já foi encaminhado e discutido em audiência pública no dia 19 de junho em Porto Alegre. Trata-se de uma necessidade que precisa ser acatada pelas autoridades do Estado, e que vem sendo reivindicada pela sociedade local. Silvia Mara Romani de Melo, assessora administrativa de uma cooperativa de transportes de cargas de Marau, foi responsável pela organização das manifestações que mobilizaram carreteiros, suas famílias e autoridades de oito cidades da região. “No dia 27 de dezembro do ano passado, fizemos uma paralisação na rodovia. Dia 19 de junho eu participei da audiência pública e eles prometeram algo para setembro. As pessoas pedem a duplicação ou sinalização emergencial, afinal, quantas famílias rezam para saber quando o familiar vai chegar em casa são e salvo”, ressalta.

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Silvia Mara já organizou manifestações para paralisar a rodovia e lembra que moradores de oito cidades da região pedem a duplicação para ter mais tranqüilidade

Silvio Carlos Lodi, empresário da área de transportes e um dos representantes desta luta, também fala sobre a situação da rodovia. “Devido ao fluxo de veículos e a projeção do aumento de veículos, é necessário a construção com urgência de 11 (terceiras) pistas, sendo que estas já foram projetadas e orçadas e encaminhadas para duplicação da RS-324 de Passo Fundo – Marau – Casca. Caso nada seja feito, continuaremos tendo este alto índice de acidentes e a RS-324 continuará sendo chamada de Estrada das Mortes”, conclui.

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Diante do atual fluxo de veículos na RS-324 e a projeção de aumento de movimento, Silvio Lodi adverte que é necessário a construção com urgência de terceiras pistas

Perigosa e praticamente esquecida, a RS-324 precisa de reformas urgentes, e cabe ao governo do Estado solucionar este problema, que acaba com vidas e destrói famílias. Uma necessidade que vem sendo questionada há quase dois anos, com maior ênfase pelos carreteiros e os cidadãos que fazem uso dela. A expectativa de todos agora é que as soluções prometidas para o início de 2009 sejam cumpridas. Com informações de Denise Pacassa