Por Denise Pacassa

Foram anos de espera até a ERS 324 – rodovia mais antiga do Rio Grande do Sul – receber melhorias para garantir maior segurança aos usuários. Construída em 1973, suas curvas intermináveis com pouca sinalização continuam fazendo vítimas, mesmo após a construção de faixas adicionais que deram fluidez ao trânsito e como consequência maior velocidade média. Principal ligação entre Bento Gonçalves, no coração da Serra Gaúcha, ao Norte do Estado e terminando em Passo Fundo, a rodovia chega a ter trechos com mais de uma curva por quilômetro. Em setembro de 2008, uma matéria publicada na edição 408 da Revista O Carreteiro mostrou as dificuldades e os perigos encontrados pelos carreteiros ao transitar pela ERS 324. Na ocasião eram constantes as reivindicações por melhorias realizadas por carreteiros, empresários, e população das cidades cortadas pela chamada “Estrada da Morte”.

Cerca de 90% dos acidentes ocorrem devido infrações cometidas pelos motoristas, afirma o tenente Paulo Roberto Mariano de Souza, da Brigada Militar
Cerca de 90% dos acidentes ocorrem devido infrações cometidas pelos motoristas, afirma o tenente Paulo Roberto Mariano de Souza, da Brigada Militar

Utilizada em larga escala para o transporte de carga, tem fluxo de cerca de 6.500 veículos em dias normais, chegando a 8.500 em vésperas e após feriados. O descaso com a rodovia fez praticamente desaparecer a camada de asfalto, surgindo muitos buracos, além da falta de acostamento, sinalização, e pontos de ultrapassagem em trecho, de pelo menos 29 quilômetros, entre os municípios de Marau e Passo Fundo.

Acidente envolvendo carro de passeio e caminhão ainda são frequentes na rodovia
Acidente envolvendo carro de passeio e caminhão ainda são frequentes na rodovia

Finalmente, diante da real necessidade de reformas e seguidas reivindicações, o governo do Estado do Rio Grande do Sul realizou parte das esperadas melhorias. A duplicação não aconteceu e as curvas acentuadas continuam no traçado, mas em um ano e meio de obras a pista de rolamento foi totalmente refeita fazendo desaparecer da pista os buracos e degraus, além de ganhar seis faixas adicionais que desafogaram o trânsito

Para o carreteiro Aleandro Grigolo, usuário habitual da ERS 324, a estrada melhorou muito após as reformas, mas a duplicação seria a solução mais viável
Para o carreteiro Aleandro Grigolo, usuário habitual da ERS 324, a estrada melhorou muito após as reformas, mas a duplicação seria a solução mais viável

Segundo o Tenente da Brigada Militar de Passo Fundo, Paulo Roberto Mariano de Souza, não houve redução de acidentes na ERS 324 após a reforma, mas informa ter havido redução de vítimas fatais provocadas pelos 20 acidentes, em média, ocorridos mensalmente na rodovia. “O número de vítimas fatais diminuiu um pouco e atualmente varia de zero a uma morte por mês” afirma. Mesmo assim, ele salienta que o trânsito é sustentado por um tripé: o veículo, a via e o condutor. Quando um desses falhar, pode ocorrer o acidente.

Em parte ficou boa, mas existem lugares que a rodovia ficou pior ainda, porque os motoristas andam mais rápido, comenta o carreteiro Dhionis Waltrich
Em parte ficou boa, mas existem lugares que a rodovia ficou pior ainda, porque os motoristas andam mais rápido, comenta o carreteiro Dhionis Waltrich

Uma das mudanças verificadas após as melhorias na ERS 324 é que antes a maioria das colisões era frontal devido ultrapassagens perigosas, atualmente com as faixas adicionais este tipo de ocorrência acontece com menor frequência. Em contrapartida, com o aumento da velocidade média acontecem outros tipos de ocorrências, indicando imprudência dos motoristas. O carreteiro Aleandro Grigolo, 32 anos de idade e14 de estrada, passa semanalmente pela rodovia e garante que a duplicação de toda a extensão da ERS 324 teria sido a melhor solução.

Existem curvas que dão medo e para melhorar mesmo só duplicando toda a estrada, sugere Alexandre Roque, que utiliza a trecho cinco vezes, em média, por ano
Existem curvas que dão medo e para melhorar mesmo só duplicando toda a estrada, sugere Alexandre Roque, que utiliza a trecho cinco vezes, em média, por ano

“Muita coisa melhorou, não temos mais buracos e as faixas adicionais ajudam bastante, mas existem muitas curvas perigosas e falta acostamento”, afirma. Dos 443 veículos envolvidos em acidentes no ano de 2010, apenas 119 eram caminhões, e de acordo com levantamento, estão em primeiro lugar os condutores na faixa etária de 26 a 40 anos de idade, responsáveis por 177 acidentes no ano passado. Dos 41 aos 60 anos, tiveram 120 acidentes e os condutores entre 19 e 25 anos somaram 73 acidentes no ano de 2010, conforme informações do tenente Paulo Roberto Mariano de Souza.

Durante o período de obras na rodovia, e com a estrada sem sinalização, Silvano Mocellin garante ter passado por situações que lhe causaram medo
Durante o período de obras na rodovia, e com a estrada sem sinalização, Silvano Mocellin garante ter passado por situações que lhe causaram medo

Dhionis Waltrich, 27, está na estrada há seis anos, utiliza a rodovia diariamente e não está satisfeito com as mudanças. “Em partes ficou boa, mas existem lugares que piorou. Vejo acidentes quase todos os dias, por imprudência e má sinalização. Os motoristas trafegam muito mais rápido”, opina. Cerca de 70% das ocorrências acontecem entre as 15h e às 21h, sendo que o recorde é na sexta-feira, seguida por sábado e segunda-feira. E grande parte ocorre nos primeiros 50km de viagem ou nos últimos quilômetros do destino do condutor.

A estrada melhorou cem por cento e para melhorar ainda mais só se acabassem com as curvas que causam acidentes, opina Alvírio Luiz Silvani
A estrada melhorou cem por cento e para melhorar ainda mais só se acabassem com as curvas que causam acidentes, opina Alvírio Luiz Silvani

O carreteiro Silvano Mocellin, 38 anos, passa, em média, três vezes por semana, pela ERS e garante ter vivido situações de medo no período que a rodovia se encontrava em obras. “O problema maior era à noite, pois o asfalto não estava sinalizado, não existiam placas sinalizando obras e a visibilidade era terrível”, afirma. Alexandre Roque, 35 anos de idade e 12 na profissão, passa, em média, cinco vezes ao ano pela rodovia e já percebeu as melhorias. Antes da reforma tinha receio dos trechos de curva e tem opinião de que para melhorar mesmo, somente com a duplicação completa da estrada.

Tem sinalização equivocada, que indica ao motorista condições de ultrapassagem em locais onde não é seguro, diz Alexandre Sanches
Tem sinalização equivocada, que indica ao motorista condições de ultrapassagem em locais onde não é seguro, diz Alexandre Sanches

Para quem trafega com frequência pela ERS 324 é unânime o discurso sobre a duplicação como o desejo de todos os usuários, embora tenha havido melhorias. Para o carreteiro Alvírio Luiz Silvani, 70 anos de idade e 40 de estrada, o governo estadual fez um grande serviço. “Nem se compara como a estrada era antes e agora. Melhorou cem por cento, melhor que isso só destruindo e fazendo a estrada outra vez, sem as curvas, responsáveis pelo maior número de acidentes”, destaca.

Na opinião de Alexandre Sanches, 31 anos de idade e 12 de estrada, as faixas de sinalização de ultrapassagem pintadas na pista estão equivocadas em muitos casos, dando respaldo para o motorista fazer ultrapassagem em locais com pouca segurança. Na sua opinião, a duplicação evitaria muitos acidentes.