Por Evilazio de Oliveira
As incertezas sobre o futuro da atividade do carreteiro autônomo – aquele que só tem um caminhão e vê poucas perspectivas de troca por um modelo mais novo – resultam numa frota antiga rodando pelas estradas brasileiras, numa disputa desigual de fretes quase sempre destinados às transportadoras bem estruturas e com caminhões modernos e com grande capacidade de carga. Mesmo assim, os audazes estradeiros resistem. Muitas vezes eles próprios fazem os consertos e reparos mais comuns, e procuram manter o veículo rodando com o mínimo de despesa, o que não impedem da manutenção básica. Sabem que as exigências e a burocracia para o financiamento para compra ou mesmo troca do caminhão são muito grandes, além da dificuldade de uma boa avaliação pelo usado. A solução, dizem, é continuar com o velho enquanto der. “Depois a gente vê, afinal, o futuro a Deus pertence…”
É o caso de Adriano Rebelatto, 33 anos e 15 de profissão. Dono de um Mercedes 81, trucado, ele transporta grãos e aço e não realiza viagens longas. Tem carga certa e não precisa se preocupar muito. Comprou o caminhão há 10 anos, em substituição a um Mercedes 72 e tinha esperanças de logo conseguir um modelo mais novo e assim sucessivamente até chegar a um modelo bem atual. “Não precisava ser um zero”, diz. Todavia, em 10 anos a situação ficou difícil para Adriano, “foi como se o tempo tivesse parado”, explica. Lamenta a burocracia e as altas de juros para o financiamento de caminhões e, como tem medo de ficar endividado, vai recompondo o seu velho “companheiro” para continuar trabalhando. Ganha o suficiente para cuidar bem da manutenção do bruto e manter a família com um relativo conforto. Gosta muito de caminhões, mas não da vida na estrada. Por isso, quando se cansar, voltará a trabalhar com mini-mercado, atividade que exercia antes de se tornar motorista.
Outro estradeiro que pensa em voltar para a antiga profissão é Luiz Carlos Bohrer Portela, o Pijica, 53 anos. Antes de ser proprietário de um Mercedes 84 era empresário, tinha um depósito de bebidas. Apesar das limitações do caminhão, ele diz que compensa, porque tem frete garantido e trabalha perto de casa. Mesmo assim, conta que “andou dando uma olhada” nos financiamentos e ficou assustado com os juros e as exigências, além da avaliação muito baixa do seu usado. “Pedem até a sogra como garantia”, brinca. Acredita que para renovar a frota o governo deveria incentivar o autônomo, com juros baixos, para a compra de um caminhão com idade de uso compatível. “O caminhão velho seria comprado e descartado pelo governo”, sugere, porque senão alguém com menos posses vai acabar comprando o caminhão velho e as sucatas vão continuar entupindo as estradas, com sérios riscos para os demais motoristas. Quanto a fretes, Pijica observa que sempre há, mesmo que sejam as sobras que as grandes transportadoras não quiseram levar. Acredita que o futuro do autônomo é voltar a trabalhar como empregado. “Não tem como resistir”, avalia.
Proprietário de um Scania 92, com carreta, Paulo de Souza Nunes tem 54 anos e 36 de volante. Sua rota são viagens entre Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná como agregado de uma grande empresa. Tem frete garantido, o que lhe dá um pouco mais de tranquilidade. Já pensou em comprar um caminhão mais novo, mas não obteve crédito através do Procaminhoneiro. “Nessa época estourou o motor e precisei financiar R$ 40 mil para a reforma, daí a coisa piorou”, revela. Sua intenção era ficar com os dois caminhões e trabalhar com o filho, que atualmente é motorista de ônibus. Salienta que o caminhão novo tem pouca despesa de manutenção e, apesar da mensalidade alta, dá para “encarar”, já que tem frete garantido. Segundo ele, o governo deveria ter uma política especial para os autônomos comprarem caminhões mais novos e retirar, aos poucos, os velhos da estrada. “Todos seriam favorecidos, lembra. Porém, com taxas de juros altas e mais a burocracia, a coisa fica difícil”, enfatiza.
Adriano Pertile tem 34 anos e três de estrada e está terminando de pagar o seu Mercedes 82, trucado, adquirido há quatro anos. Planeja trocá-lo por um modelo mais novo, um 1620, por exemplo. Ele e o sobrinho Fernando Pertile, 27 anos e cinco de profissão, trabalham no transporte da safra de maçã, em Vacaria/RS, e em pequenos fretes em cidades próximas. Segundo dizem, como pegaram o caminhão totalmente revisado, gastam pouco em manutenção, podendo, desta forma, pagar as prestações, manter as despesas de viagens e garantir o sustento da família. Adriano e Fernando pretendem continuar trabalhando e, claro, melhorando de vida e de caminhão.
Rodando em rotas do Brasil e do Mercosul, Ismail Antônio Capelletti, 53 anos e 35 de boleia, é dono de um Scania 80, com carreta, comprado há 10 anos. Ele garante que o seu caminhão vai aonde os outros vão, “só que mais devagar”. E como não pode ficar parado no tempo, afirma que em 2011 precisa fazer alguma coisa no sentido de pegar um modelo mais recente, mais moderno e possante. Como tem muito medo de dívidas, quer estudar bem as propostas, taxas de juros e de avaliação do seu caminhão. Na pior das hipóteses, prefere ficar trabalhando com o velho do que correr o risco de perder os dois: o que negociou e o novo por não poder pagar. “É melhor ganhar menos, mas trabalhar sem preocupações”, diz ele. Ismail quer saber como vai ficar a economia com o novo presidente eleito, antes é muito temeroso se arriscar. “Talvez o novo presidente se preocupe um pouco mais com os carreteiros, reconhecendo a importância que a categoria tem no desenvolvimento do País”, espera.