por Evilazio de Oliveira
A intensa atividade industrial desenvolvida em Caxias do Sul/RS e outros municípios da serra gaúcha, sede de importantes empresas metalúrgicas, autopeças, montadoras de veículos, fábricas de móveis, bandas de pneus, além da reconhecida produção vinícola, constitui-se numa das mais promissoras regiões do País para o transporte rodoviário de cargas. E, devido à diversidade de cargas, o transporte de contêineres para o porto de Rio Grande/RS, levando manufaturados para exportação ou trazendo matéria-prima para as indústrias locais é, hoje, um dos mais importantes “puxes” da região conforme explica um experiente carreteiro.
Com isso, segundo opinião do caxiense Edson César Sguaisser, 38 anos e 20 de direção, essa é uma das melhores rotas, atualmente, sobretudo pela pequena distância a ser percorrida e pela possibilidade de ficar perto da família. Ele dirige um caminhão 2001, equipado com contêineira, que diferente do bugão, permite a instalação de laterais para o transporte de outros tipos de carga. Pode transportar até três contêineres com 20 pés de comprimento ou um de 40 e outro de 20.
Gasta cerca de 24h para ir e voltar de Caxias a Rio Grande, incluindo o tempo de espera para a carga e descarga além da burocracia necessária para a liberação da documentação. Está há seis anos nesse trecho, e estima que pelo menos 50 caminhões de transportadoras locais estejam nessa atividade, além de caminhões de empresas de outras localidades, todas dedicadas ao transporte de contêineres que levam mercadorias para exportação e trazem matéria-prima ou mesmo outros produtos que são importados por empresas da região. Além das praças de pedágio, das três balanças e da má conservação de alguns trechos da rodovia, os motoristas sempre são submetidos a longas esperas para o carregamento dos contêineres. “Para descarregar no terminal é fácil, carregar é que complica”, diz ele. Essas dificuldades, todavia, fazem parte do dia a dia do motorista e no final o serviço é ótimo. “É um dos melhores “puxes” que temos por aqui”, garante. Edson e seus colegas viajam sempre à noite, a não ser quando o veículo tem restrição por causa do comprimento. É que as cargas sempre são liberadas no final da tarde. Então é preciso aproveitar ao máximo o horário livre, passando pelos pontos de fiscalização antes da “restrição”.
Moacir Arozi, o Padre, como é chamado pelos colegas, tem 51 anos de idade, 18 de profissão e 10 no transporte de contêineres no trecho Caxias do Sul/RS ao porto de Rio Grande/RS, numa rota de 900 quilômetros e 14 postos de pedágio, ida e volta. Ele dirige um caminhão 2002, equipado com bugão, caminhão grande, com 25 metros de comprimento. Apesar de a carga ser volumosa é difícil registrar excesso de peso nas balanças, embora isso possa ocorrer. Nesses casos é necessário trocar o cavalo-mecânico por outro cujo número de eixos suporte melhor a distribuição da carga.
Apesar das viagens durarem no máximo dois dias, entre o tempo de rodagem, o tempo de espera para carregar, descarregar e a liberação da documentação da carga, Moacir só consegue visitar a família nos finais de semana. Trabalha como empregado e garante que gosta da atividade, embora lamente as “filas intermináveis para descarregar, as quais muitas vezes demoram mais do que a própria viagem”. Ele, como os demais motoristas que fazem essa linha, costuma viajar muito à noite em razão do horário das liberações das cargas. Por isso, precisa ter atenção especial devido ao tamanho de seu caminhão, sujeito a restrições de trafegabilidade.
O autônomo Romélio Knecht, natural de Timbó/SC, tem 41 anos e 21 de profissão. É dono de um modelo 2005 e “trabalha solto”, como afirma. Está no setor de contêineres há 16 anos e transporta preferencialmente do porto de Itajaí/SC para o Rio Grande do Sul. Seu caminhão está equipado com bugão, permitindo transportar até três contêineres, o que, segundo diz, proporciona melhor rendimento ao final de cada viagem. Explica que na maioria das vezes o retorno é feito com o caminhão, ou o contêiner vazio, por isso o frete é diferenciado, “um pouco melhor”. Além disso, rodando vazio há menor consumo de combustível e de pneus, o que sempre é uma vantagem a mais para o autônomo, diz. Afirma que não tem preferência por carga ou destino, tudo depende da negociação e do acerto. Todavia, reclama das longas esperas para carregar ou descarregar e depois da pressa que os clientes têm para o recebimento da mercadoria. “Tem muita gente endividada no trecho, dirigindo dia e noite para ganhar um pouco mais no final do mês, isso é um perigo, além de aumentar a concorrência”, salienta.
Natural de Gaspar/SC, Jairo César Wagner, 38 anos e 18 de volante, é dono de um caminhão ano 97 e transporta contêineres dos portos de Itajaí ou de Rio Grande para municípios da serra gaúcha. Gosta do trabalho, das viagens relativamente curtas e da possibilidade de passar os finais de semana com a família. No entanto, também reclama do mau atendimento aos motoristas, pela falta de respeito que resultam em longas esperas nas filas. Ressalta que a maioria dos funcionários de empresas, e mesmo de órgãos públicos, tratam os motoristas com desprezo, como se fossem cidadãos de “segunda categoria”. Tudo isso e mais o compromisso de entregar a carga dentro do prazo gera estresse ao motorista. “Mesmo sem ter carga certa, sempre há serviço, independente da situação econômica do País, pois sempre tem gente importando ou exportando”, afirma.
Adão Carlos de Azevedo é natural de Pelotas/RS, tem 41 anos e 18 de volante. É dono de um Volvo 95 e há 15 anos trabalha no transporte de contêineres, com fumo beneficiado de Santa Cruz do Sul/RS para o porto de Rio Grande, viagem de cerca de 800 quilômetros de ida e volta. Ao final de cada jornada sobram R$ 350,00 “limpos” o que não é muita coisa, já que a manutenção do caminhão é muito cara. Outro dia gastou R$ 800,00 para a troca de uma mola, o que já abalou o seu orçamento mensal. Ele trabalha “como estepe” para as transportadoras, sem a garantia de carga. Já aconteceu de ficar parado uma semana, mas como o caminhão está equipado para esse tipo de transporte e não tem condições de comprar uma carreta, “vai levando”. “A coisa tá muito explorada”, resume.
Para o estradeiro João Ulisses Tavares de Almeida, 45 anos e 25 de profissão, o transporte de contêineres entre municípios da Serra e o porto de Rio Grande é um serviço muito bom. Natural de Santa Cruz do Sul/RS, ele trabalha como empregado dirigindo um caminhão 2005, trucado. Na maioria das vezes leva mercadorias para exportação, como móveis, bandas de rodagens de pneus, produtos químicos e autopeças. Em razão dos horários de carregamento e da liberação dos contêineres, também está acostumado a viajar à noite. Dorme no caminhão e só vai para casa nos finais de semana, “tudo muito bem e sob controle”, garante.
Natural de Rio Grande, Márcio Cozza Gonçalves, 26 anos e cinco de direção, é dono de um caminhão ano 88 com implemento. Tem o veículo há um ano e meio, antes possuía um modelo trucado, porém, como muitas vezes precisava entregar o contêiner na empresa e voltar vazio, pensou na alternativa de carregar polietileno, garantindo também o frete de retorno. “Eu costumo subir com contêiner e descer com polietileno, mas é complicado, se perde muito tempo nos terminais de carga e descarga, na liberação dos documentos e nas despesas com pedágios”. Lembra que são 900 quilômetros de estradas ruins, 14 postos de pedágios que ficam com R$ 298,00 – difíceis de serem recuperados. Mesmo assim, pegando “carga cheia” – com retorno – sobram uns R$ 1.000,00 limpos. Ou, se for apenas o transporte do contêiner do porto de Rio Grande para Caxias do Sul, dá uns R$ 500,00 reais por viagem. Consegue fazer uma média de 10 viagens por mês, apesar da perda de tempo com as inevitáveis esperas. Mesmo assim, considera que esse trabalho se constitui numa ótima opção para o carreteiro, sobretudo pelas rotas serem curtas e a possibilidade de ficar próximo à família.