Além do bem estar da família, o outro grande desejo do motorista autônomo é que haja frete para lhe garantir folga financeira e que permita a troca do caminhão ao menos por outro usado mais novo

Por João Geraldo

Motorista autônomo é um profissional diferenciado. Quem é do ramo sabe. Seu caminhão, cuja idade eleva a idade da frota, está aquém do que ele gostaria que fosse, mas isso não é motivo para ele deixar de enfrentar qualquer distância para levar a carga que como migalha, lhe sobra. Se vira como pode para superar dificuldades impostas pela atividade, tudo sem perder a esperança de que poderá viver dias melhores.

Essa característica do autônomo brasileiro, lutador que já se acostumou a não ter nada do modo fácil, exclui as eventuais diferenças culturais, econômicas e regionais. Os diferentes sotaques não o impede de falar a mesma língua em todos os cantos do País, como o perseguido sonho de trocar o velho cargueiro por outro menos rodado e a falta de garantia de que conseguirá pagar a conta, conforme disseram motoristas que falaram com a revista O Carreteiro para esta matéria.

Federico
Apesar de estar satisfeito com o seu caminhão ano 2014, Frederico Fonseca de Brito disse que no máximo até 2021 pretende comprar um modelo mais novo

O mineiro de Coronel Fabriciano, Frederico Fonseca de Brito, por exemplo, trabalha com um basculante ano 2014. Comprou há um ano, quitou e afirma que está muito contente com o desempenho do veículo. “Acho robusto, faz boa média de consumo e graças a Deus dá pouca manutenção. É um caminhão valente”, afirmou. Apesar dos elogios, admite que pretende comprar um modelo mais novo, o mais tardado até 2021.

Brito reconhece que existem dificuldades e incertezas no mercado, mas arrisca a dizer que a troca pode acontecer até antes, porque há sinais de que as coisas estão melhorando. Com mais carga para transportar ele garante que conseguirá realizar seu objetivo. “Fora isso, meu sonho é continuar com saúde, poder trabalhar e não ter dívida. Afinal, não é um sonho tão grande assim”, concluiu.

 

Raphael Seixas assumpção
A maior dificuldade para trocar de caminhão é o alto custo para transportar, afirma Raphael Seixas, proprietário
de um modelo fabricado em 2002

A mesma opinião tem Raphael Seixas Assumpção, de Dourados/MS, proprietário de caminhão fabricado em 2002, também já quitado. Pela sua estimativa, na situação que o mercado se encontra no momento, ele só deverá conseguir fazer a troca por outro modelo mais novo dentro de no mínimo dois anos. “Isso, se tudo correr bem e a situação melhorar de fato como esperamos”, acrescentou.

De acordo com Assumpção, no seu caso, a maior barreira para trocar de caminhão é o alto custo que tem para transportar, especialmente em relação ao preço do óleo diesel. Disse que sua esperança é ter a certeza de que um dia haverá um frete mais justo, com melhores condições para todos e sem tantos altos e baixos como vem acontecendo em todo o ramo do transporte rodoviário de cargas. Seu sonho não é outro senão poder trocar o seu caminhão por outro modelo mais novo.

José Mário Flores
José Mário Flores disse que seu caminhão dificilmente apresenta algum problema. Ele está há dois anos com o veículo e garante que não pensa em trocá-lo

Em meio às oscilações do mercado, e sobretudo a falta de disposição para assumir uma dívida na troca de veículo por outro com menos anos de fabricação, a maioria dos autônomos prefere continuar sobrevivendo com o veículo que tem em mãos e pago. “Eu poderia trocar meu caminhão por outro mais novo, de preferência mais econômico, porém, não penso nisso, principalmente porque estou satisfeito com o que tenho hoje, que é forte e dificilmente dá algum problema”, disse José Mário Flores, de Jundiaí/SP. Aos 62 anos de idade e 26 na profissão ele ganha a vida num modelo fabricado em 1998, e com o qual está há dois anos.

Leandro dos Santos
Embora garanta que tem condições de assumir uma dívida e trocar de caminhão, Leandro dos Santos disse que sua prioridade agora é comprar a casa própria

Quem também disse estar contente com o caminhão que possui, um modelo leve fabricado em 2005, é o motorista Leandro dos Santos, de Serra/ES, que tem 33 anos de idade e está há apenas três na profissão. Contente com o desempenho do veículo que tem, afirmou que no momento não tem qualquer interesse em trocá-lo, embora tenha condições de assumir uma dívida com o que consegue ganhar hoje. Isso porque seu objetivo maior é comprar a casa própria.

 

 

 

André Almeida de Paula
O mercado de frete anda fraco e com o que se ganha não dá pra fazer nada, comentou André Almeida, dono de um caminhão fabricado em 2014 e pago em 36 parcelas

A falta de oportunidade para o motorista autônomo poder crescer é um dos motivos que dificulta a troca do caminhão, conforme comentou André Almeida de Paula, de Carapicuíba/SP, proprietário de um caminhão leve ano 2014 que ele comprou 0km em 36 parcelas e já quitou. Ele disse que gosta de trabalhar com o veículo, porque não apresenta problemas, mas como todo mundo não descarta o sonho de trocá-lo por outro novo.

O carreteiro acrescentou que um dos problemas da categoria é que o mercado anda fraco de serviço e com o que se ganha hoje não dá pra fazer nada, muito menos trocar de caminhão. “Está tudo muito parado, sem serviço, e tem empresas fechando. Além disso, falta ao autônomo a oportunidade para crescer, pois os melhores fretes ficam com os grandes transportadores”, opinou. André Almeida acrescentou que o importante é ter o carro rodando todos os dias, poder pagar as contas e esperar o nascimento do filho no final do ano.

Andre Ricardo Alves
André Ricardo acha que o seu caminhão ano 1994 é bastante exigido e roda muito pela idade que tem, mas se conforma e diz que o importante é poder pagar as contas

Já o seu xará, André Ricardo Alves, de Joinville/SC, diferente da maioria dos seus colegas, destacou que não está contente com o caminhão que possui hoje, comprado há dois anos, mas se conforma porque é o que tem para o momento, conforme disse. Ele explicou que é um modelo produzido em 1994, com motor aspirado, que quebra muito porque ele exige muito de um caminhão com essa idade.

“É um caminhão que já está velho e o serviço que faço leva ele ao limite”, frisou. Alves acrescentou que o veículo está agregado a uma transportadora e roda mais de 3.000km por mês transportando diversos tipos de carga. Disse também que tem intenção de trocá-lo, o que espera poder fazer no final de 2020, porém, até lá precisa terminar de pagá-lo e juntar algum dinheiro para reduzir a futura dívida. Porém, no momento, sua prioridade é prosperar no trabalho e ter a família com saúde e harmonia, conforme afirmou.

José Alves de Oliveira
José Alves contou que conhece pessoas que financiaram veículo e não puderam pagar. Ele preferiu parar seu caminhão
ano 1981 para trabalhar como empregado

O carreteiro José Alves de Oliveira, de Colinas dom Tocantins/TO, por sua vez, destaca que o caminhão velho trabalha igual ao novo, a diferença é o consumo maior de óleo e viagens mais demoradas. Prudente, ele diz que com os valores que estão sendo financiados é arriscado vender o caminhão velho para comprar um novo e acabar ficando sem nenhum dos dois tendo de voltar à estaca zero.

Comentou que conhece muita gente, inclusive colegas, que fizeram financiamento e devolveram o caminhão porque não conseguiram pagar. “Eu não tenho coragem de comprar caminhão financiado”, acrescentou, apesar de lembrar que faltam ainda R$ 3.000,00 para terminar de pagar o veículo ano 1981 que comprou em 2015 e que se encontra parado. Isso porque ele optou por trabalhar como motorista empregado e atualmente dirige uma carreta atrelada a um cavalo mecânico fabricado 2014.

Mas falando ainda do seu caminhão, contou que quebrou algumas vezes, numa delas, conforme disse, uma roda mal colocada pelo borracheiro, que não apertou direito, os parafusos caiu. Em outra ocasião, lembrou, um problema na polia do motor que já tinha sido reparada se repetiu. Segundo ele, mais uma vez em razão de mão de obra mal executada. Virabrequim quebrado e compressor que caiu também entram na lista de problemas citados por Oliveira, que reconhece nunca ter levado o seu caminhão para uma revisão geral, embora disse ter histórico de ter rodado mais de 20 mil quilômetros em um mês com um veículo fabricado há mais de 35 anos.

Pensa em comprar outro caminhão e ter dois. Tem um consórcio e pretende faze rum lance de 50 mil, mas avis que só fará o negócio se a parcela mensal do saldo restante couber no seu bolso. Enquanto isso, ele vai prosseguir trabalhando como empregado e contando os dias para se casar e ir morar na mesma casa com a mulher que hoje é sua namorada. “Espero poder comprar logo outro caminhão, quanto ele tiver pago eu vendo o mais velho.