Por Evilazio de Oliveira
Ao final de cada ano, o carreteiro pára e faz um balanço – mesmo que superficial – do que fez ou deixou de fazer no período. Se foi um ano bom, mau, mais ou menos e, inevitavelmente, as razões para esses resultados. É sempre a mesma coisa: algumas decepções, frustrações e, claro, novos projetos para o ano que vem que, convenhamos, deve ser melhor do que o ano corrente, afirmam com fé.
Aos 25 anos e apenas dois de profissão, Alexandre Vendrame – natural de Maravilha/SC -, dirige uma carreta bitrem, que pertence a seu pai, Adir Vendrame, que depois de trabalhar durante 40 anos conseguiu comprar quatro modelos da marca, todos com bitrens. Transportam arroz do Sul para o centro do País e também cargas a granel para outras regiões. O forte mesmo da atividade dos quatro cargueiros acontece nos períodos de safra, conforme conta Alexandre. “É quando dá pra pagar as contas”, afirma.
Com a experiência obtida com o pai, e apesar do pouco tempo de estrada, ele garante que o ano de 2007 foi melhor do que este, quando os insumos não tiveram tantos reajustes. Lembra que o óleo diesel, pedágios, pneus e autopeças tiveram os preços aumentados, enquanto o frete continuou o mesmo, sem reajustes. “Com isso, o lucro do caminhão diminuiu bastante”, acentua. Todavia, acredita que tudo isso vai ser superado pelo trabalho, e em 2009 haverá maior lucratividade para todos. “Mas é preciso trabalhar”, ressalta.
O catarinense, Ivo Armando Regner, 50 anos e 30 de estrada, que trabalha com uma carreta ano 2000 tracionando um conjunto de semi-reboque bitrem, também no transporte de arroz, do Sul para Goiás e Mato Grosso, está nesta rota há dois anos e mesmo trabalhando como empregado reconhece que para o dono do caminhão a situação já esteve melhor. Isso por conta dos aumentos nos preços do óleo diesel, pneus, pedágios e demais insumos, ao mesmo tempo em que apesar do preço do frete continuar o mesmo ainda houve a diminuição na tonelagem das cargas permitidos pelo Dnit.
Como conseqüência, o motorista também ganha menos, conforme explica. Lembra que para o carreteiro existem altos e baixos na profissão e as prestações estão aí para serem pagas. A esperança é que a safra seja boa e compense os meses de pouca rentabilidade. Ivo Regner, no entanto, acredita que a situação esteve melhor no ano passado, quando trabalhou sem parar e faturou mais. Neste ano as coisas andaram mais devagar e quase faltou carga. Mesmo assim está confiante no futuro e pensa seriamente em comprar um caminhão para trabalhar sozinho. Lembra que já teve um baú, há uns dois anos, e precisou vender. Mas, apesar dos riscos, não vai abandonar o sonho de comprar um novo caminhão.
Para o carreteiro José Evaldino Silva de Oliveira, 35 anos e sete de direção, estes dois anos estão sendo ótimos. Ele espera que 2009 seja melhor ainda. Natural de Uruguaiana/RS e trabalhando no transporte internacional com um Ford Cargo 2002, baú, da J.A.A. Transportes – José Evaldino garante que se encontra bastante feliz. Está no emprego há pouco mais de um ano e gosta muito do patrão, José Antônio Armilato.
Viaja para o Chile e Argentina, é casado e pai de quatro filhos, e acredita que a tendência é melhorar cada vez mais no emprego. Mesmo ficando até 20 dias fora de casa, acredita que é para o seu bem e o da família. Por isso faz de tudo para que o patrão fique satisfeito com o seu trabalho e que ele também possa crescer junto com a empresa, afirma com entusiasmo.
Gaúcho de Erechim, Marcos José Marengo tem 27 anos, quatro de boléia e trabalha como empregado dirigindo uma carreta entre o Rio Grande do Sul e São Paulo. Reconhece que este ano foi mais fraco que 2007. Lembra que não foi ruim, mas também não tão bom quanto os anteriores. Ressalta que ganhou menos do que no ano passado, pois perdeu muitas viagens em razão dos baixos preços do frete. Lembra que não tem dinheiro, porém tem muita vontade de trabalhar, e com isso mantém firme o propósito de comprar um caminhão, mesmo que precise financiar uma parte. Portanto, encontra-se muito otimista em relação ao futuro.
O carreteiro Zenair Emílio Kievel, de São Paulo das Missões/RS, tem 37 anos e 10 de profissão. Ele é dono de um caminhão ano 94, agregado da Transrodut, de São Paulo, e trabalha no transporte internacional. Também concorda que o ano passado foi melhor, “trabalhou e ganhou mais e conseguiu terminar de pagar o caminhão”. Neste ano, quando as coisas deveriam se equilibrar – já que não tinha a mensalidade do veículo – houve uma série de aumentos, a começar pelo óleo diesel, que subiu mais de 17 por cento. Ele conta que tentou conseguir um reajuste para o frete, ao menos na mesma proporção do combustível, mas não deu. Ou seja, precisa trabalhar ainda mais e economizar bastante para no ano que vem poder comprar outro caminhão, conforme planeja. Quer botar o irmão como motorista, pois acredita que ambos “pegando juntos, o negócio melhora”. Confessa que está apreensivo com a crise internacional, mas confia que se a economia não mudar muito – ou ficar como está – o setor de transportes ainda estará bom. A única preocupação é com os contratos internacionais fechados em dólar, que podem acabar prejudicando o transportador devido a variação cambial, ressalta.