Por Katia Siqueira

Embora seja considerado um item de segurança do veículo, cerca de 35% a 40% da frota brasileira de caminhões e ônibus rodam com pára-brisa quebrado entre os automóveis de passeio o percentual varia de 25% a 35%. O motivo? Falta de uma lei que determine a troca da peça sempre que ela sofre avaria.

Na Europa, por exemplo, os vidros são trocados a cada dois a três anos em função da neve e do frio. “No Brasil, não temos neve, mas temos tempestade de granizo e sol forte, fatores climáticos que também afetam e danificam os pára-brisas”, diz Roberto Menedin, presidente do Sinbevidros – Sindicato das Indústrias de Beneficiamento e Transformação de Vidros e Cristais Planos do Estado de São Paulo.

No Brasil, o uso do vidro laminado no pára-brisa do veículo, por exemplo, tornou-se obrigatório no ano de 1992 por ter sido considerado mais resistente ao impacto e, portanto oferecer maior segurança ao usuário nas colisões.

De acordo com Menedin, no Brasil não existe nenhuma lei que regulamente o vidro como sendo um item de segurança. “É por isso que estamos correndo atrás para incluí-lo entre os itens que serão avaliados na inspeção veicular”, confessa.

Orlando Domingos Vieira, motorista autônomo de 42 anos não se lembra de ter trocado os vidros dos caminhões que já dirigiu durante seus 15 anos de volante. “Na verdade esse é uma peça que eu só vou trocá-los quando quebrar. Estou com meu Mercedes-Benz há cinco anos e até agora não senti necessidade de trocar o seu pára-brisa, porque ele continua bom”, garante.

O gaúcho Arari Machado (61 anos), de Porto Alegre/RS é dono de um MB 1113, ano 76 há seis anos. Ele conta que precisou trocar os vidros do seu caminhão em 2002 porque sofreu um acidente em Pelotas/RS. “Eu vinha para São Paulo carregado de papel higiênico quando perdi o controle em uma curva e tombei o veículo. Não ficou um vidro inteiro, mas eu estou aqui contando a história. Não fosse isso não teria porque trocá-los”, confessa.

Clayton Régis Santos da Silva tem 26 anos é recém-casado com Claudete Marta da Silva, que o acompanha em todas as viagens. Paulistano, ele trabalha há três anos com um Mercedes-Benz 1113, ano 74 de propriedade de um amigo, que lhe paga 10% do valor do frete, percentagem que lhe rende um salário da ordem de R$ 700,00 por mês .
“Nesse tempo todo que estou com o caminhão nunca precisei trocar os seus vidros. Mesmo porque eles estão em perfeito estado. Procuro manter o veículo em ordem, mas tem coisa que a gente só troca quando quebra”, explica o motorista autônomo.

Segundo ele, se a lei da Europa pegar no Brasil, o motorista está na “roça” porque aqui a maioria da frota é composta de caminhão velho, porque o custo da manutenção é alto e o frete é muito baixo e não dá nem para sobreviver. Ele mostra uma mola quebrada e o vazamento de óleo. “Não existe veículo de carga que não sofra do problema. Para acertar tudo isso vou perder no mínimo dois dias com o caminhão parado”, diz.

Há quatro anos na estrada puxando carga seca, Santos mora em Taboão da Serra e gosta de fazer a rota de São Paulo-Paraná, SC, RS, MG e, em particular, a BR 116 porque não tem quase pedágio, coisa que reduz muito o custo da viagem.

O frete de ida e volta para o Rio de Janeiro paga, quando muito, R$ 1,100. Considerando os R$ 150,00 dos pedágios, a tarifa das agências 60,00, mais o diesel, não sobra quase nada. “Se estourar um pneu aí o frete vai para o buraco. Um produto recauchutado sai por R$ 250,00 e um novo sai por R$ 600,00”.

Silva considera besteira colocar pneu novo no caminhão. “Talvez os dianteiros até justifiquem, mas os traseiros não há necessidade. No momento estou batalhando para ver se consigo comprar um bruto para mim”, diz.