Por Evilazio de Oliveira
No município gaúcho de Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina, está localizado o maior Porto Seco Rodoviário da América Latina, e por onde passam diariamente cerca de 800 caminhões que fazem o transporte internacional de cargas entre Brasil, Argentina e Chile. Os caminhões cruzam a ponte sobre o rio Uruguai, que liga Uruguaiana a Paso de Los Libres/AR e, apesar da vigilância constante dos funcionários da Anvisa e dos órgãos de saúde – os motoristas estão mais expostos ao vírus da Gripe A, que atinge com mais intensidades as populações da Argentina e Chile. Além disso, a ocorrência dos primeiros casos da nova gripe, e mortes, em Uruguaiana, tem deixado a população apreensiva. E, como o mês de agosto tradicionalmente é o mais frio na região e os riscos de gripes são mais frequentes, aumenta o medo entre a população em geral, não apenas entre os carreteiros.
A chefe do posto Aeroportuário e de Fronteira, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em Uruguaiana/RS, enfermeira sanitarista Adriana Siqueira Pahim, 44 anos e há 25 no serviço público, é a responsável pelo controle sanitário das pessoas que cruzam a fronteira, sobretudo dos carreteiros que atuam no transporte internacional de cargas, com destino a Argentina e Chile. Como o vírus da Gripe A se propagou com mais intensidade nesses países, e também em decorrência dos primeiros óbitos causados pela nova gripe, em Uruguaiana os cuidados são redobrados, segundo Adriana Pahim.
O trabalho da Anvisa é feito por 14 funcionários que trabalham em conjunto com as redes de saúde do Estado e do município. A ação consiste na vigilância sanitária dos viajantes que cruzam a fronteira e no Controle Integrado do lado argentino, onde o viajante preenche uma declaração com informações gerais sobre a procedência, destino, locais e pessoas com que se relacionou, estado geral de saúde, endereços e telefones onde possa ser facilmente localizado. No caso desse viajante apresentar alguns dos sintomas da doença, será submetido a um exame mais rigoroso. Dependendo da situação ele é encaminhado ao hospital para um diagnóstico mais preciso, conforme informação da chefe da Anvisa, Adriana Pahim. Ela esclarece que são distribuídos folhetos explicativos sobre os cuidados e sintomas da nova gripe, além de anúncios sonoros a cada hora nas instalações do Porto Seco, já em Uruguaiana, onde ficam concentrados os caminhões à espera de liberação das cargas. Lembra que o uso de máscara só é aconselhado para os funcionários da “linha de frente”, ou seja, os que tratam diretamente com os carreteiros que chegam da Argentina. Nos demais casos, o uso da máscara é desaconselhado. Alerta, também, para que todos – motoristas ou não – observem as recomendações da Saúde, evitando ao máximo as áreas de risco e cuidando muito da higiene e da alimentação. À medida que aumentam os casos da nova gripe na Fronteira Oeste, o trabalho de Adriana conta com o reforço de todas as entidades de classe que atuam no município, das secretarias de Saúde municipal e estadual e anunciada presença do Exército na tentativa de evitar a propagação da doença.
O vice-presidente da ABTI (Associação Brasileira de Transportadores Internacionais), José Carlos Becker, está muito preocupado com o assunto e desde o anúncio dos primeiros casos em território argentino e chileno tem trabalhado no sentido de advertir empresas e motoristas que rodam naqueles países. Segundo ele, todas as precauções são tomadas em conjunto com autoridades sanitárias e repassadas aos transportadores e seus motoristas.
O carreteiro gaúcho, Jair Ferreira Borges, 50 anos e cinco de estrada, confessa que está muito preocupado com o avanço do vírus da Gripe A no País. Natural de Muitos Capões, localidade a 195 km de Porto Alegre, ele dirige uma carreta no transporte internacional, na rota Buenos Aires/São Paulo e diz que não se descuida e procura seguir todas as normas de segurança divulgadas: evita locais fechados, lava constantemente as mãos e utiliza máscara sempre que vai ao mercado ou qualquer lugar onde exista aglomeração de pessoas. Não se importa com os risos e comentários maldosos dos argentinos, que parecem não estar muito preocupados com a nova gripe. Cuidadoso, Jair Borges pensa na família, na neta com sete anos de idade e também na população de pouco mais de 2.800 habitantes de Muitos Capões. Afinal, ele é o único morador do lugar que viaja para a Argentina. “E se eu contaminar alguém de lá? Meu Deus…”
Atento ao noticiário sobre a nova gripe, mas sem grandes preocupações, Márcio Roberto Schott, 31 anos, sete de volante, atualmente dirigindo uma carreta com câmara fria, acredita que “o que está reservado para a gente está guardado e se acontecer é porque chegou a hora”. Mesmo assim, não facilita. Cuida da higiene “uma obrigação de qualquer pessoa”, evita aglomerações e segue as recomendações das autoridades sanitárias. “Coisas básicas que qualquer pessoa educada faz no dia a dia, sem a necessidade de recomendações”, acentua. Márcio é natural de Giruá/RS, trabalha para uma empresa de Chapecó/SC e viaja pelo Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. E a primeira coisa que faz ao chegar em casa é lavar toda a roupa da viagem e limpar bem o caminhão.
O chileno Alfonso Fuentealba, 38 anos e 14 de profissão, dirige um Volvo 2008 entre Santiago e São Paulo, transportando peixes e cargas variadas. Garante que não tem medo da nova gripe “porque nessa profissão não se pode trabalhar com medo”. Mesmo assim, toma as precauções sugeridas pelas autoridades sanitárias, sempre que possível. Evita situações de risco, porém não chegou ao ponto de utilizar máscara, principalmente pelo alto custo. Também recomendou que a família redobrasse os cuidados de higiene e evitasse lugares fechados. Acredita que não há muito que o carreteiro possa fazer para evitar uma eventual contaminação com a Gripe A, a não ser tomar mais cuidado no dia a dia e, sobretudo nos contatos pessoais e na higiene.
Sorridente e despreocupado, o carreteiro argentino Norman Waibsnaider, 38 anos e 20 de estrada, garante que também não teme a nova gripe. Salienta que é preciso saber se cuidar e procurar auxílio médico se sentir os sintomas. Natural de Rafaela, município na região central da Argentina, ele costuma viajar entre Brasil, Chile, Bolívia e Paraguai, e considera que motorista de caminhão não pode adoecer longe de casa. Por isso, toma muito cuidado com a saúde. Conta que quando surgiram as primeiras notícias da nova gripe ele estava preso nas cordilheiras por causa da neve. Apanhou um resfriado forte, mas não chegou a ficar assustado, porque acreditava não ter os sintomas da Gripe A. Além disso, como está sempre na estrada e ao ar livre, é só cuidar da alimentação e seguir as normas de higiene que tudo deve ficar bem, afirmou.
Outro estradeiro argentino, Victor Alassia, 42 anos e 22 de boléia, que faz o trecho entre Bento Gonçalves/RS e Rafaela/AR, lembra que recentemente havia o temor da dengue, que assustava a todos, e que agora passou. Acredita que o mesmo deve acontecer com o atual vírus da nova gripe. Segundo ele, o povo deveria ter mais educação, cuidar melhor da saúde e evitar situações de risco. Ao mesmo tempo, os governantes deveriam informar melhor a população, sem notícias desencontradas, evitando a situação de pânico que está se instalando entre as pessoas, sobretudo as mais humildes. Alassia considera que todas as medidas de precaução sugeridas pelas autoridades devem fazer parte do cotidiano de qualquer pessoa. Afirma que gosta de limpeza, por isso pouca coisa mudou na sua rotina. O motorista precisa se cuidar; é muito complicado ficar enfermo longe de casa, ainda mais num país estranho, ressalta.