Rotina de carreteiro com destino ao Porto de Santos exige tempo e paciência, especialmente no que se refere à descarga, embora essa operação já tenha sido bem mais difícil no passado. Atualmente, os motoristas chegam à Baixada Santista e perdem menos tempo iniciar a viagem de volta, exceto uma ou outra reclamação. Mas não se compara à situação de anos atrás, em períodos de safra de grãos, quando os carreteiros permaneciam em congestionamentos quilométricos de caminhões à margem da rodovia Cônego Domênico Rangoni, sentido Guarujá, por até mais de 20 horas, sem infraestrutura ou segurança esperando para descarregar.

Heraldo03
O carreteiro Heraldo de Almeida disse que houve muitas melhoras no processo de embarque dos navios, mas ainda há falta de locais seguros para estacionar

Hoje é diferente, no entanto tem serviços que podem melhorados, conforme observa o carreteiro autônomo Heraldo Almeida, 51 anos de idade e 30 de profissão. Há três anos transportando contêineres da indústria automobilística, ele começa a conversa pela Serra do Mar, cujas condições climáticas têm influência no tempo de chegada ao Porto, especialmente pela pista no sentido da Baixada. A seguir, acrescenta que se a descarga for diretamente no Porto, e com horário agendado, não há demora, mas alerta que depende também do movimento de navios aguardando para carga ou descarga.

De acordo com Almeida, nos terminais secos – onde se deixa e retira contêineres – também existe demora devido ao permanente congestionamento de caminhões com destino ao porto na região conhecida como Alemoa. Em sua opinião, para melhorar deveria haver mais acessos de entrada e saída do bairro, bem como a existência de mais áreas de estacionamento para os motoristas aguardarem pela carga ou descarga, inclusive com infraestrutura como banheiros, restaurantes etc para atender aos motoristas.

Ceparking 1 Divulgacao
Credito- Santos Port Authority.jpg

Uma das melhorias na região para melhorar o fluxo de caminhões na saída do Porto veio no início de julho de 2020 com a inauguração do Viaduto da Alemoa, no km 64,5 da rodovia Anchieta, no sentido capital paulista. Para Heraldo, o viaduto ajudou a melhorar o acesso, mas lembra que no sentido da cidade de Santos os veículos têm obrigatoriamente de seguir pela pista lateral da via Anchieta, o que causa frequentes congestionamentos por ser o acesso de caminhões a diversos terminais.

Em sua rotina diária carregando e descarregando contêineres da indústria automobilística, acrescenta que o movimento da operação portuária é crescente, nunca para, e reconhece que devido à automação os processos de embarque nos navios têm melhorado, mas ressente que as condições na região permanecem as mesmas.

Por conta disso, prossegue, a maioria das reclamações dos carreteiros se deve ainda ao tempo de espera e à falta de locais para estacionar. Lembra que na região portuária é proibido estacionar, restando como alternativa a fila dupla em ruas próximas e sujeito a multas e ações de delinquentes. “Se tivesse mais pátios para estacionamento de caminhões ajudaria a solucionar o problema de congestionamentos na região do porto”, conclui.

POrto de Santos 2 ´ Credito Santos Port Authority
Credito- Santos Port Authority.jpg

O também carreteiro Lúcio Márcio Carvalho, 39 anos de idade e 20 na profissão, de Maringá/PR, carrega e descarrega diferentes tipos de carga (açúcar, milho, soja, adubo, minério etc) em carreta caçamba da empresa na qual é empregado e percorre entre 8 e 10 mil km/mês. Ele afirma que vai sempre para o Porto de Santos e também opinião que melhorou, embora o motorista ainda perde muito tempo na descarga de açúcar por causa da análise do produto. “Pode até haver recusa e a carga não ser descarregada. Nunca aconteceu comigo, mas já fiquei 10 horas aguardando a análise em local sem banheiro e sem ter onde comer. Situação bem difícil”, lembra. As cargas de açúcar para o Porto de Santos têm origem em Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Lúcio relata que nem todos os pátios de estacionamento são bem organizados, mas acredita que é possível melhorar com a disponibilidade de mais banheiros e até mesmo com um pouco mais de colaboração por parte também de motoristas que estacionam em locais inadequados. Lembra que não é sempre que o motorista pode escolher o pátio onde vai parar, porque geralmente o local é conhecido na hora embarque.

Outro ponto destacado Por Lúcio é o congestionamento na via Anchieta  por ser proibido ultrapassar. “Além da perda de tempo, traz perigo dem sofrer assalto às mão armada. Acontece nas duas mãos de direção, mas com maior incidência na descida”, complementa. Ele afirma que até hoje foi vítimas somente dos congestionamerntos na Serra.

Sobre como tem sobrevivido na pandemia, diz que teve muito apoio, destacou que em Santos o Exército ofereceu marmitas aos caminhoneiros e a área das balanças do Sistema Anchieta-Imigrantes foi liberada para pernoite, além de ajuda que veio da população com a distribuição de álcool gel e kits de higiene. “Este ano espero uma grande safra agrícola com muita carga para os carreteiros transportarem”, finalizou.

SISTEMA DE AGENDAMENTO

O sistema de agendamento nos portos entrou em operação em fevereiro de 2014 para acabar as filas de caminhões aguardando para descarregar. Em Santos na ocasião eram dois pátios reguladores, credenciados pela Santos Port Authority (SPA), atualmente são sete. O mais recente, instalado na zona industrial de Cubatão, é o Ceparking, autorizado em janeiro deste ano.  O diretor de operações da SPA, Marcelo Ribeiro, reforçou que se trata  de mais uma estrutura para atender o caminhoneiro que vai ao Porto de Santos aguardar o horário agendado para a entrega da sua carga nos terminais. A área conta com 350 vagas para caminhões, sanitários, vestiários, restaurante e lanchonetes, unidade de atendimento médico de emergência, área de descanso monitorada, posto de serviços e 24 horas de funcionamento. É o terceiro no município. Os outros quatro pátios credenciados pela SPA estão localizados em Santos, na capital e outros dois em Cordeirópolis e Sumaré, no Interior do Estado.